O próximo passo no setor de energia solar no Brasil é a discussão sobre como armazenar o que é gerado pelos painéis solares. Essa, pelo menos, é a visão da BYD, gigante chinesa de eletricidade que tem operação no país desde 2015. Por aqui, ela fabrica módulos fotovoltaicos, ônibus elétricos e baterias. Além disso, tem um braço de comercialização de automóveis a partir de uma rede de concessionárias.
- Hoje, a gente não aproveita a geração solar na sua plenitude. Estamos 18 anos atrasados, mas o Brasil começa a despertar para isso. Apenas gerar energia não é mais novidade, somos obrigados também a pensar em como armazenar esse energia, pensar em eficiência - falou Marcelo Taborda, diretor de vendas da BYD Energy, durante um evento da empresa que a coluna participou em Campinas (SP).
Atualmente, a grande parte dos sistemas de energia solar funcionam na modalidade on-grid, ou seja, conectados pelo Sistema Interligado Nacional, o SIN. Assim, por exemplo, quando falta luz na rede, mesmo que a pessoa tenha um equipamento de geração de energia, ela também é afetada pela queda de eletricidade.
Quando Taborda fala em armazenar a energia produzida, ele se refere ao que o setor chama de modelo off-grid. Nele, baterias armazenam a energia produzida em excedente, que poderá ser utilizada à noite, em dias de pouca luminosidade ou até quando falta luz da distribuidora.
Inicialmente, a aposta da empresa é utilizar esse sistema off-grid no agronegócio, substituindo - ou pelo menos reduzindo - o uso dos geradores a diesel, que costumam ser utilizados por produtores rurais, especialmente na suinocultura, na piscicultura, na avicultura, na irrigação e no mercado de silos.
- A gente não prega a eliminação total do diesel. Falamos em reduzir o consumo. E queremos mostrar que sim, usar armazenamento de energia por baterias é seguro, são sistemas confiáveis, com vida útil de 15, de 20 anos. Temos fábrica em Manaus. A gente sabe como fazer, queremos atuar agora mais fortemente nisso - diz o executivo.
Um exemplo dado por Taborda é no funcionamento de um aviário, que demanda controle de temperatura interna. Ele explica que, dependendo da região, pode haver instabilidade no sistema e falta constante de energia, o que pode gerar prejuízos ao produtor e levar até a morte dos animais.
Um desafio a ser superado, porém, é o preço da tecnologia. Ele varia conforme a estrutura a ser montada. De acordo com Taborda, já existe viabilidade econômica para o agronegócio, e eles estão trabalhando para mostrar isso aos clientes:
- Essa é uma quebra de barreira muito importante. Eu até falo, não adianta o projeto ser verde, se as verdinhas não entrarem no bolso. O mercado agro, assim como os outros, demanda viabilidade econômica. Estamos mostrando isso nas feiras agropecuárias, o sistema funcionando, exemplos de negócios como silos e granjas que já usam e reduziram o consumo de diesel.
Mas e nas casas? A análise da empresa é que, em sistemas menores, geralmente para residências, ainda é mais vantajoso e recomendado usar a rede elétrica. A menos que haja muita instabilidade. O cenário pode se reverter no futuro, porém, com a escalada da produção de baterias e com mudanças nas leis de geração de energia solar.
- Quando começamos a trabalhar com novas regras de energia solar no Brasil, onde tenho a possibilidade de pagar uma energia mais cara porque estou utilizando a rede, começo a visualizar esses sistemas off-grid para residências. Isso já é uma realidade na Europa. Então, ganhando escala de bateria e com isso, podemos ter um mercado no país - finaliza.
Linhas de crédito
No evento que a coluna participou, falou-se que, com o crédito mais restrito e juros altos, está mais difícil conseguir financiamento para implantação de sistemas fotovoltaicos. Uma das demandas do setor com os bancos é que haja uma ampliação no prazo do pagamento. Apesar disso, o empresário defende que ainda é economicamente viável instalar os equipamentos de geração de energia solar.
- O tempo de retorno do investimento não cresceu de forma tão abrupta. Aumentou cerca de oito meses, e isso não tira a viabilidade do sistema. Afeta, sim, mas ainda é viável.
Plataforma online
A BYD aproveitou o evento em Campinas, que reuniu representantes comerciais de todo país, para lançar uma plataforma para seus parceiros que fazem as instalações do produto. Nela, as empresas cadastradas conseguem fazer um orçamento instantâneo para o cliente, já com a margem de lucro. Ainda é possível visualizar quanto já foi vendido, quais as regiões que mais vendem e o tipo de pagamento. A ideia é que, nos próximos meses, a plataforma também esteja disponível para o consumidor final, que poderá orçar diretamente pelo site.
A BYD nasceu em 1995 na China. Pelo mundo, são cerca de 600 mil funcionários. No Brasil, são cerca de 600. Por aqui, chegou em 2015. Hoje tem três fábricas, sendo duas em Campinas (SP) e uma em Manaus (AM).
A coluna viajou a Campinas a convite da BYD do Brasil.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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