Parte dos credores do grupo gaúcho Gramado Parks, dono de parques como Snowland e de hotéis na Serra, aprovou a cobrança antecipada de dívidas que somam R$ 571 milhões. São titulares de créditos imobiliários (CRIs) emitidos pela securitizadora Fortesec para empresas que ficaram de fora do processo de recuperação judicial da companhia. Em nota enviada à coluna, a Fortesec confirmou a situação.
"Em assembleia realizada na quarta-feira, 03.05.2023, os titulares de CRIs emitidos pela Fortesec aprovaram o vencimento antecipado das dívidas da Gramado Parks e sociedades relacionadas, bem como a execução das respectivas garantias como a cessão fiduciária de recebíveis, alienação fiduciária de participação societária, fianças, dentre outras", diz parte da nota.
Ou seja, além da cobrança antecipada dos vencimentos, os credores também aprovaram a execução das garantias do crédito, que envolvem a alienação de recebíveis e da participação societária das empresas. Pelo que a coluna apurou, tratam-se das operações GPK II, GVI, Gramado VB, Aquan Prime e Termas Resort.
"Há um mês a Fortesec, com o respaldo de seus investidores, vinha buscando chegar a um acordo com as empresas do grupo GPK a respeito dos pagamentos devidos. As tentativas, entretanto, foram infrutíferas. A decisão da assembleia atende os melhores interesses dos titulares de CRIs e a execução das garantias já foi iniciada", termina a nota.
No final de abril, a coluna chegou a noticiar que os prazos da recuperação judical haviam sido suspensos por poucos dias enquanto se esperava por uma resolução da mediação entre a Gramado Parks e a Fortesec, o que não aconteceu.
Os CRIs são uma forma de o setor imobiliário conseguir capital. Quando uma construtora vende por financiamento, ela receberá o pagamento total ao longo de alguns anos. Se ela precisa de dinheiro antes para tocar o negócio, ela procura uma securitizadora, que transforma o valor a ser pago a prazo em títulos. A construtora recebe o dinheiro antes, enquanto o investidor se remunera pelo juro.
Na relação entre a Gramado Parks e a Fortesec, todos os recebíveis (as parcelas dos financiamentos dos clientes) que a empresa gaúcha ganhava por mês caíam em uma conta controlada pela securitizadora, que recolhia os valores necessários para pagar os investidores e devolvia, à companhia gaúcha, os excedentes.
Com a recuperação judicial, a Gramado Parks conseguiu na Justiça que a Fortesec repassasse os recebíveis futuros das empresas que entraram no processo e que seriam depositados nas contas centralizadoras. Também proibiu a securitizadora de executar as garantias.
Em nota de agora, a Gramado Parks disse que está "dedicado em seu processo de reestruturação financeira e empresarial para viabilizar o pagamento das dívidas de todos os credores, visando, principalmente, a preservação das suas atividades". E completou:
"Importante enfatizar que o endividamento foi gerado por uma série de fatores, sendo o principal deles devido à estrutura de financiamento com sua principal credora, a Fortesec. As altas taxas e encargos dos CRIs, bem como os juros altos, também contribuíram para esse quadro.
A Gramado Parks destaca que suas operações, como hotéis e parques, seguem com suas atividades normalmente, sem qualquer mudança para os clientes e parceiros — tendo como principal prioridade a preservação de seus ativos, empregos e o interesse de clientes, colaboradores, fornecedores e investidores, mantendo sua trajetória de importantes entregas em entretenimento e hospitalidade".
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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