O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Caiu a arrecadação da dupla Gre-Nal em 2022. No ano passado, o Grêmio e o Inter arrecadaram, juntos, R$ 796 milhões. O valor representa uma retração de 13,4% em relação a 2021, quando a receita dos dois times foi de R$ 920 milhões. Um dos principais motivos foi a queda de receita com direitos de transmissões e premiações, já que o Grêmio disputou a Série B, que "paga menos" do que a Série A do Brasileirão.
— Se olharmos 2022, foi um ano atípico para dupla Gre-Nal, se compararmos com os anos anteriores, porque teve o Grêmio, que é acostumado a grandes competições, jogando a Série B. Em 2022, o Inter teve uma arrecadação bem superior à do Grêmio, algo que não acontecia desde 2015 — explicou Pedro Daniel, diretor executivo de esporte da consultoria EY, que fez o levantamento dos números a partir dos balanços financeiros dos clubes.
Na comparação dos times, o Inter arrecadou R$ 467 milhões em 2022, contra R$ 329 milhões do Grêmio. O crescimento do Colorado se deu, principalmente, pela venda e transferência de jogadores. Foram R$ 173 milhões arrecadados por essa categoria de receita, crescimento de 96,5% em relação a 2021. Já o tricolor gaúcho sentiu a perda do dinheiro das transmissões. Foram R$ 89 milhões arrecadados com esses direitos agora, frente a R$ 207 milhões de 2021.
— O Inter teve receita com transferência de jogos muito elevada. Teve uma certa redução de premiação por conta de performance, se compararmos com 2021, mas compensou com o crescimento de transferência de atleta. Quando a gente olha a fotografia do Grêmio, teve uma receita com venda de atletas não tão relevante quanto do Inter, mas o principal impacto do Grêmio foi a redução da receita com direitos de transmissão.
O levantamento da EY também analisa o endividamento dos clubes, que é maior do que a arrecadação. Neste ano, o saldo de dívidas líquidas dos dois principais times do Rio Grande do Sul foi de R$ 1,171 bilhão. Importante destacar que, quando se fala em endividamento, nem sempre é um problema. Há dívida saudável, quando faz parte de um investimento com possibilidade de retorno. De acordo com Pedro Daniel, porém, quando se trata de clube de futebol, em geral, são endividamentos classificados como onerosos, para fechar o fluxo de caixa.
Trazendo para realidade Gre-Nal, o especialista analisa que o Inter manteve um endividamento elevado, principalmente de empréstimos, e o Grêmio teve um ano mais complexo pela queda de receita. No fechamento do ano, a dívida do Inter foi de R$ 653 milhões, e a do Grêmio, de R$ 518 milhões.
— Diferente de outras industrias, que você pode cortar algumas áreas em velocidade próxima da sua queda de receita, em um clube de futebol você não consegue, porque a principal despesa é pessoal, e você não pode romper um contrato facilmente. Resumindo, você é obrigado a buscar capital, no caso do Grêmio. O endividamento com empréstimo do Grêmio aumentou. No caso do Inter, ainda tem um endividamento maior do que do Grêmio, principalmente tributário. Ele tem três parcelamentos distintos, com taxas altas de juros.
A EY também calcula o índice de endividamento em relação à receita sem a venda de jogadores (ou seja, a receita recorrente) e com a venda (chamada de receita total). O Grêmio apresentou 2,29 vezes mais dívidas do que sua receita sem vendas de jogadores em 2022, e 1,58 vez mais que sua receita total. Já o Internacional apresentou 2,22 vezes mais dívidas do que sua receita sem vendas de jogadores em 2022, e 1,4 vez mais do que sua receita total.
E no retrato nacional?
A coluna aproveitou para perguntar a Pedro Daniel como a dupla Gre-Nal se encaixa no retrato nacional dos clubes de futebol. Na visão do especialista, o momento é de concentração de clubes, com alguns poucos times se consolidando como os mais "ricos".
— O Grêmio, até ano passado, estava no que chamamos de Tier 1, no nível 1 de performance, dentro de um grupo de três ou quatro principais clubes em termos de relação financeira e performance. Com a queda para Série B, ele saiu desse grupo. Hoje vemos Palmeiras e Flamengo na liderança. Não é concidência que eles têm as melhores performances nos últimos anos, porque são os clubes mais ricos do Brasil. Em um segundo momento, mas com alto potencial, você tem Corinthians, São Paulo, Grêmio, Inter e Atlético Mineiro. Grêmio deve dar uma grande alavancada, e o Inter, apesar de uma dependência de transferência de atletas, é um clube com potencial extremamente elevado para se consolidar nesse pelotão da frente do futebol brasileiro.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna