Chega a me faltar o ar estar aqui escrevendo sobre o ataque à creche de Blumenau, mas há assuntos fora da economia que me provocam. Desde ontem, recebo dúvidas de mães sobre a segurança nas escolas a partir de mensagens que circulam, especialmente nos grupos de WhatsApp, sendo que participo de alguns. Por ser mãe e jornalista, muitos acham que tenho mais acesso a informações.
Primeiro, minha resposta às mães que me perguntam (e direciono também aos pais que também sentem) é que não se culpem por terem medo, não se achem histéricas, como podem ter ouvido. Se foram buscar seus pequenos na escola mais cedo ontem, tudo bem. Eu também senti muita vontade de abraçar os meus e acabei adiando o plano de deixá-los nos avós exatamente porque precisava sentir o cheiro deles ontem para voltar para o eixo depois da notícia. A culpa pode ser ainda pior que o medo.
Desde sempre e em todos os seres, o medo é um elemento importante na sobrevivência quando bem catalisado. Porém, minha segunda resposta é que ele não pode nos paralisar, nem e muito menos quando envolve nossos filhos, para os quais somos fortaleza. A polícia catarinense desmentiu boatos de que mais agressores estão organizando ataques.
Como mãe jornalista, entendo que eu seria desonesta ao dizer que é único e nunca mais terá apenas para acalmar o coração de quem me pergunta. O passado mostra que já tivemos outras tragédias assim. Raras, raríssimas, mas ocorreram e destruíram famílias. Ao falar que não foi caso isolado, o ministro da Justiça, Flávio Dino, estava se referindo a isso, de que tivemos mais de 20 ataques nos últimos anos quando não se deveria ter nenhum.
Ninguém tem como garantir o futuro, mas tem como trabalhar a prevenção. Há diversas formas de fazê-lo. Ontem, fiquei mais atenta ao observar os protocolos de segurança ao buscar meus filhos na escola. Gostei de só poder atravessar o pátio acompanhada de um monitor, por mais que tivesse que esperar mais para isso. O comunicado que a escola enviou hoje reforçando seu olhar sobre a situação também foi importante. Sem necessariamente nos paralisar, o medo deixa a comunidade em estado de alerta. Não vamos deixar de andar de carro com as crianças porque há acidentes de trânsito, mas tomaremos precauções por sabermos que eles existem.
Em tempo e muito importante, as autoridades têm que agir, e com inteligência para prevenir. Têm que parar de colocar tranca de ferro em porta arrombada. Fica o pensamento: "como foi acontecer isso de novo?"
Tem me chamado também a atenção os alertas dos especialistas em saúde mental para que observemos mais as pessoas no nosso entorno, especialmente os nossos próprios filhos. Uma base forte de educação e afeto, um olhar atento. Cuidemos da nossa casa e da nossa comunidade.
Às famílias de Blumenau, não tenho a pretensão de dizer que imagino o que estão sentindo. Não faço a menos ideia da dor.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna