Será que o carro popular vai voltar? Atualmente, não tem veículo novo custando menos de R$ 70 mil, mas o governo federal fala em um programa para baixar este preço para até R$ 45 mil. O podcast Nossa Economia, de GZH, trouxe diversas opiniões sobre a possibilidade.
Presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio Lima Leite:
"Tenho conhecimento de que os revendedores de automóveis tiveram a ideia, o governo gostou e procurou a Anfavea. Apresentamos diversas informações, mas a entidade não tem participado diretamente do debate porque envolve preço. Então, as montadoras têm sido chamadas individualmente. O governo chegou a falar que queria um carro de R$ 45 mil, R$ 50 mil. Está analisando todas as alternativos possíveis para baratear. Eu sei que tem um viés de crédito, do próprio FGTS, tributário. Tem toda uma discussão que não sabemos como vai se desenrolar, ainda não está em fase final."
Presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Rio Grande do Sul (Sindodiv-RS), Paulo Siqueira:
"Quando foi lançado, há mais de 30 anos no governo do presidente Itamar Franco, o veículo que ficou conhecido como carro popular tinha uma carga tributária reduzida, praticamente simbólica, com o IPI de apenas 0,1%. Era comercializado por um preço muito acessível para época, de cerca de US$ 8 mil e com autorização de até mil cilindradas. No entanto, era incomparavelmente inferior aos veículos fabricados hoje em dia, em todos os aspectos, seja por questões de tecnologia ou simplesmente legais, uma vez que a legislação atual de emissões de poluentes não autoriza a fabricação de um carro como aquele. Airbags, ABS, sensores de todo tipo, e até mesmo vidro elétrico e ar-condicionado, são inimagináveis para aquele antigo carro popular, mas qualquer veículo de entrada tem hoje. E o preço relativo de um carro popular da época, cerca de US$ 8 mil, considerando a inflação do dólar e o câmbio atual, é muito simular ao dos veículos de entrada atuais. Significa que os carros de hoje não estão, comparativamente com aquele modelo anterior, tão caros como parece. A proposta para a volta de um carro popular é interessante, porque aumentar produção e vendas é bom para todo mundo. Há necessidade de uma severa redução de impostos, o que acho difícil acontecer."
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari:
"Entendemos que é uma medida paliativa, mas é melhor do que nada diante da crise em larga escala do setor. Mas não seria um carro barato. O povo, hoje, tem pouca margem no orçamento. A massa salarial está muito baixa. Mas quem seria o comprador do carro popular? Com a política de juros altos como essa, só endividaria mais o povo. É importante que os governantes pensem juntamente com o povo das montadoras, os sindicatos e as empresas em uma medida possível para garantir os empregos."
Engenheiro mecânico especialista em setor automotivo Anderson de Paulo:
"O conceito é bem interessante, mas para ter um preço baixo, tem que reduzir custos de fabricação. Teríamos que abrir mão de uma série de itens do veículo. Quando comparamos o brasileiro com o do resto do mundo, principalmente com o da Europa, o nosso carro já é popular. Então, o que fazer no Brasil para que ele seja mais barato? Reduzir impostos é uma estratégia. Como reduzir custos de produção? Será que as pessoas abririam mão de um ar-condicionado em um carro de R$ 50 mil? Hoje, o mais barato do Brasil é o Renault Kwid, que está custando R$ 70 mil. Não posso tirar airbag e ABS, que são itens de segurança, está na lei. Então vou tirar o quê? Ar-condicionado, vidro elétrico, direção elétrica assistida? Nos anos 1990, quando veio o carro popular para o Brasil, se criou o motor 1.0, que andava menos, consumia menos combustível, não tinha ar, não tinha direção, não tinha vidro elétrico, era duas portas. Não tinha nem o espelho retrovisor do lado direito. Eu vejo que esse conceito hoje não vinga. Um carro duas portas hoje é quase inconcebível. A ideia é interessante, só que o difícil vai ser chegar na equação de quantos itens eu vou ter no veículo e quanto a população vai querer pagar por ele. As empresas existem para ter lucro, crescer e dar emprego. Não adianta baixar o preço a força e ninguém querer fabricar."
Ouça o podcast na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna