Assim como a estiagem, a falta de diálogo para resolvê-la não é um problema novo. Na terceira safra em quatro anos com falta de chuva no Rio Grande do Sul, novamente se busca medidas emergenciais porque irrigação e coleta de água da chuva não avançaram como deveriam. Há um ano, a coluna ouvia da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que faltava diálogo da iniciativa privada com o governo do Estado e o Ministério Público. Nesta quarta-feira (22), no Gaúcha Atualidade, o atual ministro, Carlos Fávaro, antecipou esboços das medidas que a comitiva de ministros pretende anunciar amanhã em Hulha Negra, após ter batido o martelo em reunião com o presidente Lula, e, logo na sequência, cobrou as do governador Eduardo Leite.
- Queremos ver o que o governo do Estado vai fazer.
Procurados pela Rádio Gaúcha, o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, e o presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (ApromilhoRS), Ricardo Meneghetti, disseram estar na expectativa de medidas de socorro imediato, mas também de ações estruturantes para preparar a propriedade para novas estiagens.
Falta de diálogo, porém, apareceu na fala de outros líderes do agronegócio, que disseram não saber da visita da comitiva ministerial ou que achavam que não seria anunciado nada. Pois é a oportunidade de cobrar que seja. Boa parte do setor apoiava a reeleição de Jair Bolsonaro e ficou descontente com a vitória Lula. Questionado sobre isso pela coluna, o ministro foi enfático:
- A eleição acabou. Todos que pensarem racionalmente no bem do agronegócio, que querem produzir mais e melhor, terão as portas abertas no governo. Faz parte apoiar outro candidato e financiar dentro das leis. Já aqueles que ainda acham que a eleição não acabou, o problema deles é lá com a Justiça.
É preciso unir forças. Que governos e entidades desçam do pedestal no qual nem deveriam ter subido. Que não seja por falta de diálogo que continuemos a discutir estiagem eternamente e a amargar os impactos dela no PIB. Falando em medidas, o ministro Carlos Fávaro garantiu na entrevista que a comitiva trará anúncios concretos ao Rio Grande do Sul. De imediato, renegociação e alongamento de dívidas, mas também busca ações "transversais", ou seja, que dependem de outros ministérios, como carros-pipa, cestas básicas, dinheiro para cisternas, estoque regulador de milho, entre outras.
Para fechar, na avaliação do ministro, o investimento em projetos de irrigação em áreas de preservação permanente, as chamadas APPs, também depende de "consciência". Garante que há linhas de crédito.
- Ninguém busca. Acha que o problema não é dele, mas não se pode tratar o paciente só com remédio para a dor - diz o ministro, referindo-se às medidas emergenciais em detrimento de ações estruturais, que evitariam efeitos de secas futuras.
Ouça a entrevista na íntegra:
Colaborou Vitor Netto
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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