Além de efeitos imediatos em bolsa de valores, dólar e juro, uma crise institucional no país tem potencial de derrubar ainda mais a confiança dos empresários. A economia depende dela para girar. Entrevista com Anna Gouveia, pesquisadora e economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, que calcula o Índice de Confiança Empresarial.
As invasões em Brasília podem piorar a confiança dos empresários?
A sondagem de dezembro já retratava um claro movimento de desaceleração, com a incerteza econômica e uma política monetária restritiva, de juro alto com famílias endividadas. Além disso, havia o cenário caótico de covid na China. Situações como a de Brasília nesse domingo geram dúvidas no empresariado sobre a democracia, ele fica receoso, com posição cautelosa sobre investimentos e empregos.
O indicador mostra o humor de empresários de todos os setores?
Ele agrega os quatro grandes setores da economia: serviços, indústria, construção e comércio. Considera a percepção atual e perspectivas, ambas em tendência de queda. O que ocorreu em Brasília pior o que já estava delicado. Serviços vinham resilientes, recuperando perdas da pandemia, mas está perdendo força. Indústria tinha problemas de insumos, estabilizou, mas em nível baixo. Ocorre algo semelhante nos demais setores, retratando a economia fraca.
A insegurança institucional se dissemina nas respostas da pesquisa?
Sim. E tem uma pergunta sobre fatores que limitam produção e contratação de funcionários. Questões políticas e institucionais estão entre as respostas.
Quando a confiança esteve melhor?
A série histórica começou em 2001. O nível mais alto foi em maio em 2010. Exceto pelo vale de 2008 (quando teve a crise do subprime nos Estados Unidos), o melhor período foi entre 2007 e 2010. Não tínhamos incerteza econômica, a política de governo era razoavelmente clara, a taxa de desemprego estava baixa e a economia mundial estava favorável, com preços elevados de commodities.
Quanto demora uma recuperação de confiança?
É uma pergunta difícil porque depende de vários fatores, mas não temos sinalização hoje de que a recuperação será rápida. Há o vandalismo, o que ocorre no Congresso, juro elevado que encarece a crédito e inflação que corrói o poder de compra do consumidor, que vem de um histórico de endividamento.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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