Após a disparada por alguns meses, o preço do leite despencou. Pesquisa do IBGE aponta, por exemplo, recuo de quase 20% no varejo da região metropolitana de Porto Alegre, puxado por motivos que vão da entrada da safra à queda no consumo exatamente por o produto ter ficado caro demais. No acumulado de 2022, o aumento é de 56%, ou seja, ainda não volta ao patamar anterior. Só que o recuo preocupa os produtores, ponderou o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
Pelo peso no orçamento, se comemora a queda do preço ao consumidor, mas como está a pressão sobre o produtor?
Queremos deixar bem claro que nós não somos inimigos do consumidor, que busca o melhor para si. Produtores e consumidores são os elos fracos dessa cadeia. O consumidor procura uma promoção. Nós só sabíamos 30 dias depois o preço que iríamos receber pelo leite. Nós não vendemos, nós entregamos. Agora, organizamos um pouco e sabemos em 15 dias. Trabalhamos com paixão, é extremamente difícil. Quando o consumidor pagou lá R$ 6, R$ 7, R$ 8, até acima de R$ 10, foi um absurdo. Não entendíamos porque tanto, já que tínhamos dificuldade de receber mais de R$ 3.
Como o preço chega tão maior ao consumidor, então?
Nós, produtores, não somos uma bolha e não somos ignorantes. Sabemos que existe oferta e procura, que todo mundo quer ter lucro. Estamos lutando também pelo nosso. O produtor de leite é um enorme consumidor. Produzir não é mais aquele bucólico balde ao pé. Nem pode. Hoje, o leite tem que sair do teto da vaca higienizado direto para um tanque com resfriamento rápido.
Intermediários também têm seus custos. O que fazer para reduzir mais ao consumidor, mas manter a atividade atrativa para o produtor de leite?
Realmente, todo mundo necessita ter algum lucro. Não queremos passar por chorões. A importação subiu 130%, tem que ter regulamentação. A oferta e procura resolve o problema momentâneo, mas matamos o produtor se ele não tiver lucro. Nos últimos dois anos, 22 mil famílias pararam de produzir leite. É um problema social e econômico gravíssimo. Temos que ter alguma previsibilidade, três, quatro, quiçá seis meses com contrato. Se está ruim agora, o pavor é o auge do verão. Quando você paga uma promoção de R$ 2 o litro de leite, é esmola, caridade com chapéu dos outros, porque vai sobrar pra nós. O ônus tem que ser dividido e não só pago por consumidor e produtor. Geralmente, discordamos muito, mas a indústria ainda senta conosco. O administrador de laticínio tem um poder enorme, determina o preço que vai pagar pela matéria-prima.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna
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