A economia gaúcha fechou o semestre com uma retração de 3,4%, segundo o Índice de Atividade Econômica Regional do Rio Grande do Sul (IBCRRS), indicador calculado pelo Banco Central e considerado um termômetro do PIB. Foi o pior desempenho do país, conforme o ranking elaborado pelo economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank. Na média nacional, houve um avanço de 2,2%.
O semestre foi marcado por retomada no varejo (+8,5%) e no setor de serviços (+15,4%). Apesar da inflação, houve injeção de dinheiro na economia, com liberação de FGTS e antecipação da aposentadoria pelo INSS. Há, ainda, bastante consumo represado do período da pandemia, especialmente em atividades de turismo, como hospedagem e alimentação. Em tempo, a base de comparação nestes setores é baixa, considerando que o primeiro semestre do ano passado teve um período de fortes restrições pelo avanço da covid-19.
A indústria teve um crescimento bastante tímido, de 0,4%. O setor ainda sente, principalmente, a escassez e a alta dos insumos para a produção. Mas o que levou o indicador a ficar bastante negativo foi a agropecuária, afetada fortemente pela estiagem, que derrubou a safra de verão. Os efeitos foram sentidos ainda nos indicadores gerais da economia gaúcha no primeiro trimestre, lembra o economista Oscar Frank.
O que levou o Rio Grande do Sul a ter o pior resultado do país?
Tivemos um problema gravíssimo relacionado à estiagem no campo, que acabou fazendo com que alguns dos nossos principais produtos básicos sofressem enormes prejuízos. A safra de verão veio muito ruim, afetando soja, milho, arroz, tabaco. São produtos muito relevantes para a nossa economia, que geram divisas ao Estado. Em função disso, nós tivemos o resultado que se descolou da média nacional.
Por que os fortes crescimentos de varejo e serviços não compensaram a queda no agro?
Temos aqui no Estado um peso muito maior do agronegócio do que na média nacional. O setor primário acaba atingindo a indústria e os serviços, atingindo 40% da economia gaúcha, contra 25% da média nacional. Então, quando acontece um problema climático dessa magnitude acaba gerando esse prejuízo significativo. A boa notícia é que nós tivemos uma safra de inverno bastante positiva. Isso deve impactar favoravelmente no PIB no quarto trimestre. Mas, mesmo com essa safra positiva, não devemos nos recuperar de todos os prejuízos da safra de verão, infelizmente.
O que podemos esperar para o varejo e para o setor de serviços no segundo semestre?
É importante entender por que que tanto o comércio como os serviços performaram bem: nós tivemos uma melhora sensível do quadro sanitário a partir de fevereiro, o que possibilitou o preenchimento da demanda que estava reprimida. Ajudou, principalmente, os serviços e o comércio considerado não essencial, como o de tecidos, vestuário, calçados. Nós tivemos também o impacto da alta das commodities sobre o PIB, o que ajuda as exportações. E tivemos uma medida bem relevante da parte do governo federal que foi aquele programa Renda e Oportunidade, com liberação extraordinária do FGTS, a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas. Ao longo do segundo semestre, esses vetores começarão a perder força, mas temos outras situações oriundas de políticas federais. A partir dessa redução de ICMS nos bens e serviços essenciais, abrindo espaço no orçamento das famílias para que venham a gastar tanto com o comércio, quanto com os serviços. E também a PEC dos Benefícios, injetando recursos sobretudo para as famílias de mais baixa renda, que têm uma propensão maior a consumir. Pelo menos até o final do ano, eu entendo que a perspectiva acaba sendo relativamente positiva. Mas fica a grande interrogação: 2023. Não vejo vetores significativos para continuar sustentando essas taxas de crescimento no ano que vem.
Olhando para fora do Brasil, nossos três principais mercados - China, Estados Unidos e Argentina - estão com dificuldades. Qual o impacto na economia gaúcha?
Embora o comércio não exporte, tem impacto indireto. Na medida em que existe uma desaceleração econômica global, a nossa capacidade de geração de renda é prejudicada, um dos principais fatores que explicam o desempenho do varejo. Estamos monitorando. Temos a política de "covid zero" na China, a crise imobiliária lá, além de uma desaceleração econômica nos Estados Unidos. O banco central americano deve continuar aumentando as suas taxas de juros, o que é um desafio para a retomada. E a Argentina com gravíssimos desequilíbrios macroeconômicos, com restrição aos fluxos cambiais, às importações, algo que acaba nos afetando diretamente.
Com gargalos globais, o varejo passou a comprar mais produtos nacional para vender. É uma tendência?
De fato, essa nacionalização acabou acontecendo, uma herança da pandemia. Se persistir o cenário internacional conturbado, pode fazer sentido aprofundá-la. Mas se a situação de normalizar, requisitar o que vem de fora pode ter mais sentido do ponto de vista de eficiência econômica. Mas em termos de perspectiva, não vejo essa situação se resolvendo de maneira rápida. Vai levar tempo para os fornecedores, as cadeias econômicas se reorganizarem. Os custos logísticos chegaram a bater US$ 11 mil. Antes antes da pandemia, a medida de frete era de US$ 1,3 mil, US$ 1,4 mil. Hoje, está na casa de US$ 6,5 mil. É um patamar muito alto ainda. Isso não vai ser normalizado dentro dos próximos 12 meses.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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