O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Empresa de Bento Gonçalves com mais de 50 anos de atuação, o Grupo Bertolini — que trabalha em segmentos como móveis e logística — quer investir R$ 250 milhões até 2028, em um plano diretor que compreende a expansão das operações na serra gaúcha, no Espirito Santo e em Pernambuco, onde tem unidades industriais. O número foi dado em uma entrevista exclusiva para o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) pelo novo CEO da companhia, Evandro José Boscardim, e pelo CTO — que trabalha com inovação — Jeferson Bertolini.
Na entrevista, a coluna também aproveitou para perguntar sobre esse momento de transição na gestão e sobre o lançamento de uma nova marca, focada em móveis que podem se adaptar para espaços pequenos. Confira trechos abaixo:
Qual a estrutura e a história da empresa?
Jeferson Bertolini: O Grupo Bertolini tem mais de 50 anos. Foi fundado em agosto de 1969. Hoje nossa sede é em Bento Gonçalves. Nós temos operações no Espírito Santo, em Pernambuco e no México. O Grupo Bertolini hoje tem em torno de 1,1 mil funcionários e atua nos segmentos de sistemas de armazenagem, móveis e cozinhas de aço, móveis de madeira, móveis planejados, tubos metálicos e logística. Atualmente nós estamos em um processo de expansão, de transição e de desenvolvimento, preparando o grupo para que a gente possa conduzir os próximos 50 anos com bastante eficiência e sustentabilidade nos negócios.
E nesse processo, muda o CEO?
Jeferson: Isso. Passamos por um processo de sucessão, trabalhando com governança desde 2011. A Bertolini foi fundada pela família Bertolini, e em 2020 para 2021, a gente estruturou um novo modelo de gestão. Nisso, o Evandro assumiu a área executiva e eu a área de pessoas, governança e a transformação da companhia. Então foi um movimento bem importante para nós, para o grupo, para a família no sentido de profissionalização dos negócios.
Evandro Boscardim: A empresa vem passando por um processo de evolução contínuo. Nos últimos dois anos, a Bertolini sofreu um processo de mudança muito grande, o que proporcionou para nós uma sustentação de resultado, um crescimento substancial de faturamento. O grupo de 2020 para 2021 cresceu na ordem de 61%, atingindo um faturamento de R$ 757 milhões. Para o ano de 2022 a gente tem um budget, um faturamento também com crescimento de mais de dois dígitos aí, de 21%. Temos, sim, desafios pela frente, até porque o cenário econômico para o segundo semestre, em questões fiscais, de inflação, de taxas de juros, nos traz ainda mais dificuldades, mas a empresa se mostra preparada.
Vocês saíram de um prejuízo de R$ 5 milhões em 2020 e ano passado tiveram uma receita líquida de R$ 73 milhões. Como foi isso?
Evandro: Sim, isso é a construção de uma história do grupo Bertolini. Uma diversidade de negócios, que quando organizada com um sistema de governança estruturado, possibilita que a gente tenha os pilares pra esse crescimento. Esses pilares são estruturados muito pela questão da valorização das pessoas, então nos últimos anos também a gente procurou trabalhar muito o desenvolvimento e a capacitação das pessoas. E também focado no mercado, focado no cliente. Mas eu diria que o pilar número um foi o desenvolvimento e a capacitação das pessoas.
Evandro, você já trabalhava na empresa ou entra agora pra assumir esse cargo?
Evandro: A mudança da estrutura organizacional da companhia começa a acontecer em 2020. Eu entrei como CFO da companhia. Em 2021 a gente fez essa nova transição, onde o senhor Antônio Bertolini, que era o presidente da empresa, foi para a presidência do Conselho. Aí a gente tem a passagem, eu fiquei no cargo de CEO, e o Jeferson ficou no cargo de CTO.
Vocês estão lançando uma nova marca, que é a Save Space. Ela surgiu durante a pandemia. Qual será a função dela?
A Save Space está dentro do guarda chuva de negócios da Evviva, de móveis planejados, móveis de madeira. Como a gente acompanha esse mercado imobiliário e de consumo, nós identificamos que vem ocorrendo já há bastante tempo uma redução de espaço de apartamentos. Para tu teres uma ideia, na década de 1970, uma média do imóvel era em torno de 70 metros quadrados. Em 2020, a média é de 45 metros quadrados. Isso em todas as faixas de mercado. É um movimento que tem a ver com uma concentração urbana. Quando a gente observa isso, entendemos que os imóveis passam a ser menores e eles têm que ter ambientes multiuso. Então, nós desenvolvemos uma linha de produtos e criamos a Save Space, que busca economizar ou aproveitar o espaço. São móveis que posso transformar. Por exemplo, um quarto em um escritório com escrivaninha para home office.
Então são móveis adaptados. Isso tem relação com a mudança de comportamento de consumo com a pandemia?
Jeferson: Ele mudou na pandemia, mas as coisas já estavam acontecendo. A pandemia acelerou esse processo de mudança. A gente aproveitou essa oportunidade, porque na pandemia, o fator mais importante foi as pessoas que tiveram que ficar reclusas dentro das suas casas, aí tem toda uma mudança de consumo, uma aceleração com as pessoas se preocupando com o ambiente da casa. Os ambientes passam a ser locais onde tu, inclusive, relaxa. Tu está convivendo, mas também trabalha. Então houve sim uma aceleração no período de pandemia.
Agora, as pessoas estão voltando a sair de casa, voltando pros seus escritórios, voltando a trabalhar fora de casa. Como a empresa vê esse movimento?
Jeferson: As pessoas voltam a sair, voltam a viajar, e elas vão também gastar mais em outros segmentos. Houve uma concentração durante o período da pandemia em tudo que se relaciona com a casa. Agora é natural que isso se movimente para outros segmentos. Então a gente está observando esse mercado. Uma coisa ficou clara: o consumidor entendeu que a sua casa não era só um local para estar ou para dormir. Ele também precisa ter qualidade de vida, e eu acho que isso veio pra ficar. O nosso desafio é continuar desenvolvendo produtos e soluções nesse sentido. Outro aspecto: tem um movimento social e econômico muito forte pelo trabalho híbrido. A gente tem que lidar com isso e tem que trabalhar numa dinâmica equilibrada, criando condições para, também, ter um trabalho híbrido.
Evandro: Sobre a questão econômica, a empresa realmente aproveitou o momento que a própria pandemia infelizmente trouxe, de estar recluso nas nossas casas, mas também de estar investindo no bem-estar e na qualidade de vida interna do imóvel. Então, a gente cresceu muito nesse segmento. Nós, como grupo, dentro dos próximos anos, vamos continuar investindo em todos os seguimentos do negócio. Para os próximos anos a empresa em um plano diretor de investimento que chega na casa dos R$ 250 milhões. Esses R$ 250 milhões são divididos entre as cinco segmentos do grupo. Isso vai nos proporcionar uma sustentação, inclusive de crescimento de dois dígitos.
Esses investimentos são para todas as unidades?
Evandro: A gente está em um processo de expansão com um plano diretor para todo o grupo Bertolini. A gente tem direcionamentos de investimentos tanto para unidade de Colatina, no Espirito Santo, como para a unidade de Pernambuco, mas também a gente está estruturando e investindo no Rio Grande do Sul.
Esses investimentos em todas as empresas seriam na ordem de quanto, vocês já têm estruturado isso?
Evandro: Nos próximos anos o nosso plano diretor de investimento está em R$ 253 milhões. O destino desses investimentos são para cinco unidades, então cada unidade tem um plano diretor.
Esses investimentos preveem criação de novos empregos?
Evandro: Sim. Hoje o grupo Bertolini está com aproximadamente 1,1 mil funcionários. A gente acredita que com a expansão que a gente ainda está tendo, a gente vai terminar o ano com um crescimento para em torno de 1,2 mil funcionários. Com o investimento, ao longo do tempo, desses R$ 250 milhões, a gente possivelmente, nas nossas estruturas e nos nossos estudos, terá 1.650 funcionários.
Tem um prazo?
O nosso plano avalia e preserva muito a questão do fluxo de caixa. Ele está consolidado até 2028.
Dentro desse plano macro, já há diretrizes delimitadas? Como seria o investimento no Rio Grande do Sul?
Evandro: Nós temos esses planos de expansão na logística, que é a Logber Transportes, que é basicamente a ampliação de serviço, com a qualificação de automação e amplitude da frota. Nós temos um plano bastante robusto na Evviva, que são os nossos móveis planejados, que é a unidade em Bento Gonçalves. A gente está fazendo agora alguns investimentos buscando máquinas e equipamentos que são de origem italiana e alemã para que possamos fazer essa ampliação. E também temos alguns investimentos de automação na Bertolini Tubos. Então isso está indo em processo estratégico.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.