Quem puxa a economia verde? O consumidor ou a empresa? Para Oskar Metsavaht, é o empreendedor. Gaúcho de Caxias do Sul, ele é fundador e diretor de criação da Osklen e embaixador da Boa Vontade para Paz e Sustentabilidade da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Ele palestra no South Summit, em Porto Alegre. Confira abaixo trechos da entrevista ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, e a íntegra no vídeo:
Quem são os guardiões da Amazônia, que você fala na palestra?
Não são só os indígenas que moram na floresta. Nós, sim, podemos e devemos ser e nos perceber como guardiões da Amazônia, da nossa biodiversidade, da nossa riqueza de recursos naturais. s colonos, pessoas que migraram para Amazônia e que transformam sua biodiversidade em produtos que geram economia, mas que sejam de uma forma ambientalmente e socialmente sustentável.
Veja também a entrevista em vídeo:
Com isso, fecha o tripé da sustentabilidade?
É. Social, econômico e ambiental. Eu venho com esses princípio. Eu faço projetos de sustentabilidade há 24 anos. Nós temos práticas e projetos sustentáveis na Amazônia que usam recursos naturais através de projetos do Instituto E. Nós trabalhamos em um hub com pensamento empreendedor. A gente parte do empreendedor como um ativista, que consegue olhar, por exemplo, a Amazônia, ver a sua riqueza da biodiversidade, da cultura ancestral, e ao mesmo tempo enxergar as mazelas que têm. Jovem que está na floresta tem de trabalhar no garimpo, nas madeireiras, no desflorestamento. É um uso dos nossos recursos naturais de uma forma perversa. Nós, sociedade de consumo, só sabemos levantar bandeiras contras. "Não desmate a Amazônia, não faça isso, não faça aquilo". Mas não prestigiamos, ou não desenvolvemos como empreendedores projetos que usem os recursos naturais de uma forma criativa, transformá-los, ou de uma forma de gestão de cadeia, em produtos de origem secundária ou terciária, que é onde tem o capital intelectual e criativo.
O empreendedor tem que puxar esse movimento?
Sim. E nós, como consumidores, temos que olhar as marcas, como cidadãos do século 21, precisamos entender aquela cadeia econômica, de onde ela vem. Por que não optarmos, por exemplo, em comprar um produto que seja de origem sustentável e que ajude economicamente comunidades de baixa renda a criarem empregos, povos da floresta? Se eu faço essa escolha, estou sendo um guardião da Amazônia. Quando você olha para um tênis AG nosso, tem sete cadeias diferentes de suprimentos de origem sustentável. Desde o látex da Amazônia, o peixe de pirarucu da Amazônia, ou a juta da Amazônia. É um semi-artesanal. A palmilha dele é feita de etanol de cana de açúcar e tem borracha de pneu reciclado.
Esses produtos são mais caros?
Essa é uma pergunta que sempre me fazem. Os produtos de origem sustentável são inovação. A inovação é cara. Toda inovação é cara. Nós estamos saindo de 200 anos de revolução industrial. A sociedade consumindo mais, aqueles produtos ganham escala. Ao longo do tempo, os preços ficam viáveis. A gente considera o novo luxo. Primeiro, porque as quantidades são pequenas para respeitar várias questões da biodiversidade. O desenvolvimento tecnológico ainda está sendo feito.
É o preço que se paga até para fazer uma ruptura em todo o raciocínio industrial...
Para a nova economia do século 21.
Essa ruptura tem esse custo que, por algum tempo, precisa ser repassado.
Hoje em dia, as únicas que estão bancando esse custo em toda a sociedade são as empresas. São empresários, empreendedores.
Que às vezes jogam com a margem de lucro de um produto tradicional para outro...
Isso. Ou não. Conosco na Osklen e no Instituto E, com as empresas, a gente encara como um investimento em inovação.
Às vezes há iniciativas que não são sustentáveis na sua essência, mas se vendem como sustentáveis. Como é que o empreendedor, que quer buscar um fornecedor que ajude ele nesse processo, ou o consumidor, que quer buscar um produto que seja sustentável na sua estrutura, inclusive, pode fugir da enganação?
Como empreendedor, é participar do processo. Compreender a cadeia. Não ser um cliente dos materiais fornecidos, e sim, ser um participante da cadeia. Você imagina toda cadeia agrícola, depois a cadeia de transformação daquela fibra têxtil em malha. Como designer, eu trabalharia só com essa malha que chegasse para mim e criaria uma coleção. Nós chamamos de Sustainable Design Thinker: pensamento do design sustentável. Isso é pensamento estratégico, não só desenhar. Obviamente que a gente ainda desenha, porque nossos negócios são de moda.
Dizem que o mais importante da utopia é a caminhada em busca dela. Não necessariamente chegar até ela.
Que lindo isso.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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