Produção de biogás a partir de capim-elefante é a aposta de uma empresa que pretende construir uma usina de R$ 1,2 bilhão no Rio Grande do Sul. Foi iniciado recentemente o pedido de licenças ambientais, além das conversas com clientes em potencial. A proposta foi detalhada em entrevista do programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, com o diretor-executivo da Petrus Bio-Energy do Brasil, Eduardo Cereja Raymundo. Confira:
Qual é a proposta da Petrus para geração de energia?
A proposta é produzir energia limpa, verde e sustentável. Foi um trabalho organizado com bastante pesquisa, conexão com empresas internacionais, que dominam a tecnologia de mercado. Nós temos três pilares da empresa voltados para energia: sustentável, econômica e ambiental. É isso que nós estamos visando: produção de biometano.
A partir do que? Por que é renovável?
Ele é renovável porque o substrato que vamos utilizar nessa tecnologia é o capim-elefante. O nome técnico é capiaçu. É uma planta de fácil cultivo. Uma vez plantada, pode durar até 10 anos, tendo um bom cultivo e manutenção. Pode dar até três cortes ao ano. É uma matéria totalmente fantástica nesse sentido. Com baixos agressores.
Veja também em vídeo:
E parece com o que?
É um capim grande, que pode atingir até quatro metros de altura.
Precisa ser cultivado, na quantidade que vocês precisariam?
Sim, exatamente. Precisa ser cultivado, mas é um cultivo bem simples, fácil. É muito resistente a variações climáticas, e também contra agressores externos, como pragas, secas. É bem interessante nesse sentido, não exige grandes cuidados.
Tem essa iniciativa em outro lugar do país ou do mundo?
Eu descobri em uma das viagens para a Tailândia, onde tinha uma unidade produzindo biogás para energia elétrica utilizando capim-elefante. São pioneiros nesse substrato. E descobri que a empresa que construiu foi da Alemanha. Me chamou atenção, principalmente porque o Brasil tem muito desse capim, ser de fácil cultivo e ter capacidade de fazer a obra em grande escala.
Onde ele seria cultivado aqui no Estado?
É muito usado para silagem, alimentação de gado, cavalos. E no Estado, qualquer lugar dá. É muito fácil de se cultivar mesmo. Até tem lugares onde que é considerado uma praga. Tem em abundância.
O que vocês querem fazer é a usina?
Sim, terá 48 biodigestores, onde vai ser processado esse capim-elefante para gerar o biogás. Cada biodigestor tem 30 metros de diâmetro por oito metros de altura. São 48 biodigestores, sendo que nove biodigestores vamos usar para produzir nossa própria eletricidade. A indústria será autossuficiente em termos de eletricidade, e 39 vamos utilizar para produzir biogás, purificar e utilizar o biometano, que seria o substituto do gás natural veicular (GNV).
Vocês estiveram na Sulgás. Eu conversei com eles, falaram que estão interessados, aguardando mais informações e a tramitação. Vocês já estiveram, também, com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, conversei com a secretária Marjorie Kauffmann, sempre entusiasta de novas tecnologias e novas propostas. Também está aguardando. Estiveram também na Casa Civil, com o secretário Artur Lemos. Como está o processo de apresentação do projeto para dar início à solicitação das licenças?
O projeto já não é mais um projeto no papel. Já é um projeto em andamento. Já temos a área onde vamos construir a indústria. É no polo petroquímico em Triunfo, quase em frente a uma das unidades da Braskem. É uma área de quase 80 hectares, sendo que 35 hectares para construção da área fabril e o restante para armazenar o capim-elefante que virá dos produtores. Essa área já compramos. Já demos entrada na Fepam, estamos dando atenção a tudo que foi solicitado no sistema da Fepam, fazendo análise de solo, hídrica. Nós estimamos 90 dias para ter todos os laudos solicitados. A nossa parte de engenharia estima esse prazo. E se tudo ocorrer dentro da normalidade, no final de outubro queremos começar a construção da unidade fabril. Eu e o diretor Mauri estamos viajando para Alemanha para finalizar a contratação de toda a tecnologia. Virá tudo da Alemanha. Eles dominam toda essa parte. Será tecnologia europeia. Estivemos também no Fórum Brasileiro de Biogás, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), e foi consolidado, mais do que nunca, essa decisão. Já está sendo cuidada também a parte civil da construção, para estar totalmente a parte técnica administrada e contratada. Essa é a estimativa. Final de outubro, darmos início. Com pessoal da Sulgás, tivemos a reunião com a presidência. Estamos preparando a documentação que eles solicitaram, para mandar informações técnicas, de quantidade, qualidade, como será a geração. Mas a estimativa de produção da nossa indústria é de 12 milhões de metros cúbicos de biometano, com 97% de pureza, ao mês. Segundo pessoal da Sulgás, esse é mais ou menos um terço do que hoje eles compram da Petrobras. Está nessa expectativa.
E quando vocês conseguiriam começar a fornecer isso, considerando a previsão de iniciar as obras em outubro?
O cronograma passado pelo pessoal da Alemanha é entregar tudo pronto em 13 meses. Eles já construíram várias plantas ao redor do mundo, estão presentes em 30 países. Tem um conhecimento fantástico. Nós estamos trabalhando com variáveis que podem ocorrer, em torno de 18 meses. A ideia é, no início de 2024, já estar entregando os primeiros metros cúbicos de biometano.
A Petrus é gaúcha? Foi criada para esse projeto?
Somos gaúchos. Ela foi criada com essa finalidade. É uma empresa que inicialmente era de investimentos, mas quando a gente fez a alteração contratual dela, foi voltada totalmente para esse projeto. Inclusive, a ideia é expandir, não ficar só nessa indústria.
Como é essa parceria com os alemães? São investidores? Fornecedores?
Fornecedores. Eles têm a tecnologia muito desenvolvida, porque a Alemanha está bem à frente na questão de produção de biogás, com vários substratos que eles têm. Um conhecimento fantástico. Serão os fornecedores da tecnologia. Temos algumas parcerias, mas para investimento no projeto. Esse projeto, o CAPEX (investimento) é de R$ 1,2 bilhão.
Seria o aporte financeiro de vocês?
Isso.
Esse recurso viria de onde?
Nós temos alguns investidores privados e fundos de investimentos que estão querendo aportar o recurso total.
Já tem isso engatilhado, ou seria após o licenciamento?
Estamos com a captação parcial. Vários estão só aguardando essa licença sair para aportar. Até porque, como mencionei, esse projeto não é único. A ideia é, por causa dessa tecnologia, e do diferencial que tem no mercado, por produção de capim-elefante, fazer várias unidades. Nós temos pedido para construir uma unidade em São Paulo, na região de Registro. Que tem uma empresa que quer comprar toda produção para vender a uma frota específica do Brasil. A própria Sulgás mencionou a possibilidade de construir uma planta de quase cinco vezes o tamanho para atender uma unidade termal que está parada por falta de biogás. Já começamos a estudar.
A térmica comprada pela Âmbar?
Eu acredito que sim. Não mencionaram especificamente qual era.
E geração de empregos?
Para obra, do tamanho da vergadura dele, serão em torno de 1,1 mil empregos diretos e indiretos na construção. E tem uma estimativa, porque precisaremos contratar produtores rurais para produzir capim-elefante para empresa. São 10 mil hectares que nós precisamos contratar, em um raio de 100 quilômetros de onde ficará a unidade, e estimamos que podemos atingir até 2 mil produtores rurais para atender essa demanda. É um contrato de 10 anos de fornecimento, e a empresa bancando todo custeio de plantio, colheita. Entrará como mão-de-obra e arrendatário de terra. Isso será muito bom, porque gerará um bom resultado financeiro para o produtor, acima da média, inclusive, e também, vai contemplar o comércio local, porque mantendo produtor gerando uma renda, e uma renda excelente, acima da média de algumas culturas como milho, soja. E ele tendo um contrato definitivo, prestando só esse serviço, isso é muito positivo nesse aspecto. Vamos ajudar a mantê-lo na nossa atividade rural. Terá uma renda garantida e permanente. No mínimo 10 anos. E também, dentro de uma política que temos adotado pela empresa, para nos tornarmos monocultura, todo produtor que entrar para fazer contrato conosco, em torno de 10% de sua área terá que plantar hortifruti. Para que também beneficie a sociedade como um todo, a região. E vamos bancar esse custo também. Economicamente falando, socialmente e, à nível ambiental, é algo inquestionável, trará vários benefícios.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.