A troca no comando do Ministério de Minas e Energia não tem só a política de preços da Petrobras como pano de fundo. É, sim, a situação mais recente e intensa. Porém, a conta de luz também está no radar.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro citou o ministro exonerado Bento Albuquerque em uma crítica forte e pública aos preços dos combustíveis.
"Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação levando-se em conta o lucro abusivo que vocês têm. Vocês não podem quebrar o Brasil."
Elas têm sido frequentes, já houve troca de presidente da Petrobras por elas. Bolsonaro sabia que um aumento do diesel estava iminente porque a defasagem do preço no Brasil em relação ao Exterior gera risco de desabastecimento. A gasolina também está escapando por pouco, mas não por muito tempo. A alta do juro nos Estados Unidos está à espreita para nova disparada do dólar, vide a inflação norte-americana alta divulgada nesta quarta-feira (11).
A conta de luz é outro pepino para o governo federal. A escassez hídrica e o IGP-M pressionada por commodities trazem reajuste intensos e que se disseminam pela inflação, difíceis de combater. O ano será marcado por altas de dois dígitos nas tarifas, mesmo que o empréstimo aprovado pelo governo às elétricas jogue parte da conta para encargos que serão cobrados do consumidor em 2023.
Recentemente, chamou muito a atenção de quem conhece o setor quando Bolsonaro anunciou pelo Twitter que não haveria mais cobrança de bandeira tarifária nos próximos meses. Até então, estava sendo cobrada a da escassez hídrica, criada no ano passado com valor altíssimo para suportar o custo maior de geração de energia. Os "tuítes" vieram dias depois de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ter informado que a cobrança continuaria ainda e seria reduzida progressivamente. Ou seja, o que mudou em poucos dias? Tecnicamente, nada. Politicamente, a pressão da inflação em um ano de eleição.
Uma fonte no Ministério de Minas disse recentemente à coluna que estava até com saudade da crise hídrica, dada a turbulência atual. Além do preço, teve os indicados à direção da Petrobras que tiveram de ser alterados de última hora e a pressão sobre a Aneel para o custo da energia.
Este é o cenário assumido por Adolfo Sachsida, economista nomeado como ministro de Minas e Energia. ele estava na equipe de Paulo Guedes no Ministério da Economia, como assessor especial desde fevereiro de 2022. Antes, era secretário de Políticas Econômicas. Em outras ocasiões, ele criticou o vale-gás, por exemplo. Também tem uma postura de rigor fiscal:
"Algumas vezes as medidas têm boas intenções, mas terminam com resultado negativo. temos de tomar muito cuidado para que as medidas tomadas não agravarem a situação. por isso a economia se posiciona contra determinadas medidas. pois apesar da intenção ser boa, o resultado pode ser ruim. temos de trabalhar para que o resultado também seja bom", disse ele quando falou dos projetos no Congresso para amenizar preços dos combustíveis, incluindo o fundo de estabilização.
"Se eu criar medidas que gerem receio sobre a consolidação fiscal, risco país sobe, real se desvaloriza, combustíveis sobem. Começa com uma medida para reduzir o preço do combustível, mas é equivocada. Vai ter o resultado contrário. Entendo a demanda do Congresso e da sociedade, mas cabe a nós mostrar que elas não vão ter o resultado esperado."
As colunistas Giane Guerra e Kelly Matos falaram sobre o tema no podcast Descomplica Kelly, de GZH. Você pode ouvi-lo no player abaixo:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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