O Brasil vive uma onda de furtos de cobre. O metal, cada vez mais valorizado, tem sido vendido nos ferros-velhos por volta de R$ 80 o quilo. Ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o superintendente da Associação Brasileira do Cobre (ABCobre), Enio Rodrigues, disse que o material tende a valorizar cada vez mais nos próximos cinco anos.
— A causa disso é que o cobre nos últimos dois anos, em função da pandemia e da escassez de produção do minério, teve um aumento de quase 100% — contou.
Segundo ele, o metal saiu de US$ 4.500 a tonelada para US$ 9.500: mais que o dobro do valor em um período de dois anos.
— A demanda vai crescer, e a gente sabe que o cobre é limitado aos produtores que a gente tem no mundo hoje. A tendência no médio-longo prazo é o cobre subir. Existem projeções dizendo até US$ 15 mil a tonelada daqui a cinco ou seis anos — disse.
— Existe uma demanda gigantesca no mundo hoje em função da mobilidade elétrica. Em um carro elétrico e até no sistema de abastecimento dele, vai uma quantidade enorme de cobre — completou.
De acordo com o superintendente, os carros comuns possuem 10% de cobre na sua composição. Os veículos elétricos, cada vez mais comuns, utilizam quase 30%, enquanto os caminhões usam 40% do metal em sua composição.
Leia a entrevista na íntegra:
O problema é nacional ou só do Rio Grande do Sul?
Esse é um problema recorrente em todo o Brasil. Nós estamos com vários Estados e municípios com repartições públicas, hospitais, sistemas de transporte sendo interrompidos pelo furto de cabos em todo o Brasil. A causa disso é porque o cobre nos últimos dois anos, em função da pandemia e da escassez de produção do minério, aumentou quase 100%. Ele saiu de US$ 4.500 a tonelada pra mais de US$ 9.500 a tonelada. Então, hoje o atrativo é muito grande para quem faz esse tipo de delito, e as penalidades são muito pequenas quando se identifica.
O que combateria a receptação?
Quem furta são moradores de rua ou pequenos delinquentes para reciclar, vender para ferros-velhos. O que os municípios têm tentado fazer, até com novas legislações, é obrigar o ferro-velho a registrar nome e CPF da pessoa que vende. Há dificuldades para isso, porque algumas pessoas estão fora do circuito social. Mas se você impõe uma regra clara, pelo menos diminui a incidência desse tipo de delito. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi estabelecida essa norma pela Câmara de Vereadores.
Onde foi feito e funcionou?
Infelizmente, você também tem uma reação de uma parte da sociedade que entende que os recicladores, as pessoas que recolhem o lixo, que estão à margem da sociedade, serão prejudicados. Nós entendemos que não. No Rio, deu algum algum efeito. Algumas cidades fizeram isso isoladamente pelo Brasil. Mas, se o cara não consegue vender nesse município, simplesmente atravessa para o próximo ou pega o intermediário que vai coletando tudo e depois vende mais na frente.
Qual o ciclo depois do furto?
O ciclo é simples. O ferro-velho recolhe, depois ele junta em grandes quantidades e vende para um grande laminador que faz a transformação disso no cobre novamente. Ele funde o metal e faz a transformação para retornar ao mercado. Depois, você não tem como identificar mais nada. Tem que saber quem vendeu para o ferro-velho e tem que responder pelo crime de receptação de produto furtado.
Tem algum balanço no Brasil da atuação das organizações criminosas?
De uma maneira geral, a operação é a mesma em todo o país. É crime organizado mesmo. Você imagina se consegue R$ 70, R$ 80 o quilo do cobre, qualquer 100 ou 150 metros (de fio) você tem 10 quilos, 20 quilos, 30 quilos, 100 quilos. Então, é fácil aferir lucro. Temos duas modalidades: os especializados em crime e o pessoal que está à margem da sociedade.
A solução é barrar o intermediário?
Sem dúvida, se você impedir que a pessoa venda, se o ferro-velho, a empresa que faz a reciclagem, na hora da compra olha e fala "olha isso aqui é um produto de furto né?". Só pela característica, já vê que não é uma sobra de obra, que não é um um processo normal de reciclagem. A fiscalização e na polícia tem que se concentrar principalmente em quem recebe.
Qual seria a solução para esse problema?
É complicado. As soluções passam por mudanças estruturais na nossa rede de distribuição. Hoje nós temos uma rede de distribuição que é totalmente externa e em postes. A gente teria que mudar para um sistema de fiação aterrada, com acessos mais controlados. Você teria segurança e também uma melhor visibilidade da cidade com o aterramento dos fios. Uma solução passa pelo receptador, acho que temos que endurecer bem as penas. Ele pode achar que está comprando só um fio roubado, mas está parando um sistema de transporte, parando um hospital. Podem morrer pessoas dentro do hospital por falta de uma energia elétrica, de um irresponsável desse.
Qual a tendência do preço do cobre? Vai continuar subindo?
O preço quase que dobrou. A tendência é estabilizar por algum momento, mas a previsão para os próximos cinco anos é de continuar subindo. Existe uma demanda gigantesca no mundo hoje em função da mobilidade elétrica. Em um carro elétrico, em um sistema de abastecimento, vai uma quantidade enorme de cobre. Só para ter uma ideia, um carro hoje tem em torno de 10% de cobre na sua composição. Um carro elétrico passa para quase 30%. Um caminhão, por exemplo, terá em torno de 40% de cobre a mais. A gente sabe que o cobre é limitado. Há projeções falando em até US$ 15 mil a tonelada daqui a cinco ou seis anos.
Colaborou Guilherme Gonçalves
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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