Rede gaúcha de postos de combustíveis, a Farroupilha está lançando a Alegrow, uma marca de lojas de conveniência de rua. A ideia é instalar unidades, feitas com contêineres, em pontos de grande circulação de pessoas, como parques e vias urbanas. A primeira operação, que será usada como teste, inaugura agora em março em um posto de Canoas. A segunda, já confirmada, ficará na orla do Guaíba, perto do Largo Elis Regina, ao lado da Usina do Gasômetro.
— Serão cinco contêineres que formarão a loja na Orla. Começamos a instalação em 15 de abril. Ela larga com oito funcionários já fixos, mas dependendo da movimentação e dos dias da semana, podemos ter 12 funcionários. É um ponto muito movimentado. Ali, as pessoas vão poder sentar na grama, comprar produtos da loja, fazer uma cesta de piquenique. Teremos cestas para quem quiser comer fora, produtos com preço justo — explica Eduardo Costa, um dos sócios do projeto.
O objetivo da marca é que cada unidade tenha características únicas. Na operação da Orla, por exemplo, a parte externa receberá grafismos em homenagem à Elis Regina, ao pôr do sol e ao Guaíba. Ainda do lado de fora, haverá espaço pet com água, ração e sacolinhas biodegradáveis para os animais ficarem esperando enquanto o dono realiza as compras.
Para as duas primeiras unidades, o investimento no projeto foi de cerca de R$ 1 milhão. Até o final do ano, porém, os empresários querem investir mais R$ 5 milhões para aberturas de outras lojas. O objetivo é estar presente em 10 pontos — todos próprios, ou seja, sem franquias — no Estado ainda em 2022. Uma terceira operação, também na Orla, já está confirmada.
—Nós fechamos uma parceria com a Gam3, que é responsável pelo trecho da Orla 1 do Guaíba. E essa parceria contempla já uma segunda unidade, na outra ponta, onde tem as quadras esportivas. Será uma operação menor. E depois, temos alguns pontos em discussão com a prefeitura, que envolvem diferentes cenários, como de concessão, revitalização. Cada caso é específico.
Fora de Porto Alegre e Região Metropolitana, há negociação avançada para uma unidade em Gramado, na Serra Gaúcha.
Impacto do aumento dos combustíveis na rede
A coluna aproveitou o bate-papo com Eduardo Costa para saber mais sobre como anda a situação para os empresários do setor de postos de combustíveis, principalmente com o preço da gasolina nas altura. Hoje, a Rede Farroupilha opera 16 postos da distribuidora Ipiranga, 14 lojas AmPm e 12 JetOil, com faturamento anual em torno de R$ 250 milhões. Confira na entrevista:
Qual a estrutura da rede Farroupilha hoje?
Nós somos parceiros Ipiranga. Todos nossos postos são de bandeira Ipiranga. Hoje operamos 16 postos de combustíveis na região de Porto Alegre e Grande Porto Alegre — Cachoeirinha, Canoas — e estende-se até o Vale dos Sinos. A cidade de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Campo Bom, e mais no litoral norte, na cidade de Santo Antônio da Patrulha. E em abril vamos inaugurar mais duas operações, uma em Porto Alegre e outra no Litoral Norte. E também temos 14 lojas de conveniência AmPm.
Não tem como não falarmos do preço dos combustíveis. Mercado vem de valores bem altos em 2021, baixou um pouco no início do ano e agora já há chance de novos aumentos com o impacto da guerra no leste europeu. Inclusive, já há uma defasagem de 30% entre o preço do petróleo internacional e o valor do combustível na refinaria. Como vocês lidam com esse aumento de preços?
O primeiro grande ponto é desmistificar algo. Em muitos negócios, o cliente imagina que o preço maior na ponta significa um maior ganho ao proprietário. No combustível, não é verdade. Quanto maior o preço na bomba, pior para o proprietário do posto de gasolina, porque maior é o capital de giro necessário para ele rodar o mesmo negócio. Ou seja, com as mesmas despesas fixas. O meu desejo era que a gasolina estivesse à R$ 3, porque todo mundo iria usar o carro, não iria ter tanta restrição. Sobre o aumento, tem dois grandes motivos: o custo do produto, o preço do petróleo em dólar. E, agora, a questão da guerra, que é uma coisa inadmissível nos tempos atuais. E o reflexo acaba atingindo todos os países. Atrelado a isso, temos uma alta carga tributária em cima do combustível. E para ser justo, não é só do governo estadual, nem só do governo federal. São dos dois. O que ocorreu agora na virada do ano foi uma redução da alíquota do ICMS do Rio Grande do Sul, que caiu 5% e houve, obviamente, uma queda na bomba de combustível, que foi onde nos aproximamos dos R$ 6.
E como vocês têm trabalhado com a margem de lucro agora em um momento tão apertado no bolso do consumidor, em que qualquer mudança impacta?
Não é de hoje, as margens vão se tornando cada vez menores, tanto por parte da distribuidora como por parte da revenda. Mas precisa também existir uma margem mínima que consiga cobrir os custos de operações por parte da revenda e da distribuidora. Hoje, a gente sobrevive criando ciclos virtuosos. Quando o teu cliente chega no posto para abastecer, tem que oferecer uma gasolina aditivada, convidá-lo para conhecer a loja de conveniência, oferecer a troca de óleo, ou na próxima troca, ele voltar. Tu tens que criar um ciclo virtuoso que faça com que o cliente se mantenha fiel ao ponto. Porque se tu tiver hoje um posto de combustível que dependa exclusivamente só da gasolina, dificilmente a conta vai fechar. Não existe mágica, a matemática é racional. Tu tem de um lado entrada, e de outro, saída. Se tu não tiver controle e gestão bem feita do negócio, tu virá a ter prejuízos, e terás duas opções: fechar o posto, ou vir a quebrar. A gente vê um número muito grande de postos fechados e que estão fechando. Não existe receita milagrosa, existe maneiras de diminuir impacto. Uma delas é criar ciclos virtuosos, trazendo o cliente para outros produtos que o posto oferece, que é onde tu consegue ter um ganho um pouco maior. E a outra questão também é o número de postos. Quando tu acaba tendo uma escala maior, tu consegue achar um equilíbrio. Às vezes tenho um posto que deu R$ 800 de prejuízo na última linha. Eu tive que ir lá, fazer alguns ajustes, para esse posto pelo menos empatar ou dar resultado mínimo. Mas a gente se permite a isso porque temos outros postos que dão resultados. Eu tenho um fôlego para tentar viabilizar esse ponto de venda.
E para além da gasolina. Vocês trabalham, por exemplo, com GNV?
No nosso caso, uma estratégia nossa é não ter GNV. Foi algo particular, porque o GNV tem uma margem maior, mas, em compensação, tem um custo operacional muito maior ao dono de posto.
E a questão do etanol...
O etanol, ao meu ver, é como aquela pessoa que tem o potencial, mas não aproveita. Eu acho que teríamos todo potencial, como Brasil, de investir no etanol, uma energia limpa. Com o aumento do dólar, se tornou muito mais atrativo para as usinas de açúcar produzir o açúcar do que produzir o anidro. Por causa do mercado internacional, se tornou mais interessante exportar o açúcar do que produzir anidro, causando um aumento exponencial e desproporcional do etanol. Mas é um combustível que, ao meu ver, teria um potencial muito maior a ser explorado em todos sentidos.
Pela percepção do mercado, também na tua conversa com a distribuidora, já se estipula possíveis novos aumentos no curto prazo?
Sem dúvida, o receio existe e é real. É algo que está além do consumidor. Além de mim, que sou a revenda. E está além da distribuidora. O receio existe nas três pontas. Agora, também nós sabemos que é um momento totalmente atípico. A Rússia e a Ucrânia estão em guerra. O que eu acredito que está ocorrendo? Por ser uma questão pontual e incerto, está havendo uma espera por parte da Petrobras de tomada de decisão. Eu não posso tomar uma decisão que causará impacto sobre toda uma cadeia de consumo, como o diesel, por exemplo. Está havendo, e espero que haja por mais alguns dias e talvez semanas, esse aguardo para saber, realmente, como isso vai ficar. Mas inevitavelmente, em o petróleo ficando nesses patamares que estão agora, vai haver o reajuste.
E como o senhor enxerga a questão da paridade internacional? Seria o caso, na tua opinião, de ao longo prazo, o Brasil apostar mais no refino dentro do país? Como tu vê isso, analisando também tua experiência no setor.
Eu fui operar meu primeiro posto de gasolina em Londrina, no Paraná, com 21 anos de idade. Na época eu cheguei a ter 11 postos de combustível. Fui embora do Brasil para um projeto pessoal, com a família em 2014 e voltei em 2018. Retomei a parceria com a Ipiranga. Então, a rede hoje, atual, tem mais de três anos com 16 postos de combustível. Sobre a paridade internacional, primeiro, um ponto crucial é a independência. Aumentar os investimentos internos no refino para criar uma independência dos países estrangeiros. Referente, especificamente, à paridade ao mercado internacional, que foi implementada à época do governo Temer, acho que foi na melhor das boas vontades. Quando ela foi implementada, realmente se tinha as melhores intenções, até para restabelecer o respeito do mercado como um todo e ao brasileiro. Agora, hoje, se eu concordo com ela? Em partes. Porque da maneira que ela está, não está sendo benéfica ao consumidor, à população brasileira, que ainda é a maior detentora das ações da Petrobras. Agora, se tivéssemos uma reforma tributária ou uma reforma inteligente que conseguira, com ela, criar um equilíbrio.. Por exemplo: se subir o preço do petróleo, reduzir a alíquota. Se houver uma reforma mais inteligente, sou positivo. Agora, da maneira que está hoje, está lesando o bolso do consumidor.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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