Empresário gaúcho que trabalha com tecnologia e com arte, Claudio Carrara terá um teatro no jardim de sua casa. Além da empresa de tecnologia Meta, ele é um dos sócios da Bell’Anima Produções, produtora que está construindo o Palco Bell’Anima no Recanto Maestro, distrito de Restinga Seca, na região central do Estado. A coluna conversou com Carrara para saber mais sobre o projeto na região. Confira:
Como está crescendo essa área do Recanto Maestro. Vocês resolveram atuar em várias frentes?
Sim. O Recanto teve dois momentos que foram divisores de água. Um foi a faculdade, porque em um primeiro momento, as pessoas não entendiam muito bem o que era, e com a faculdade, isso começou a desmistificar um pouco. A faculdade ajudou a abrir. O Recanto é aquilo que se ensina aqui, que no fundo é uma filosofia humanista baseada no empreendedorismo e liderança. E agora, outro divisor de águas são as Thermas Romanas, atração que está trazendo um impacto que a gente ainda não dimensiona, mas é muita gente vindo. Isso para nós é bom, mas requer uma atenção para conseguirmos manter a identidade do local, que é ser um centro de estudo, arte e cultura humanista.
Vocês estão apostando também nas oliveiras. Isso é um charme e tem um apelo econômico e turístico enorme, não?
Exato. Tem a questão das oliveiras, do vinho. Tem todo um entorno que está se gerando, e sempre convergindo. São várias iniciativas que convergem para um desenvolvimento sustentável. Isso está muito bacana.
Veja a entrevista em vídeo:
E segue o projeto da orquestra com a comunidade?
Segue o projeto da orquestra jovem. Começou em 2015, conta hoje com 350 crianças. Já está em um nível super evoluído. Nós fizemos um concerto na semana passada e estamos muito impressionados com o resultado que estamos alcançando, que é um resultado social nas famílias, nas crianças, no desenvolvimento da mentalidade — porque a arte tem esse poder de criar uma mentalidade de respeito ao próximo e construção de uma mentalidade de excelência —, mas também o resultado artístico. Isso tem nos deixado muito empolgados com o projeto.
Vocês buscam os jovens?
O grande problema nosso é logística, porque os municípios próximos estão a uma distância de 10 quilômetros. Então, a gente está trabalhando em parceria com as prefeituras, onde montamos núcleos. Durante a semana, os alunos dos municípios têm aulas nos núcleos, aí os professores vão, e no final de semana, o grupo mais avançado vem pro Recanto e tem aula durante todo o sábado. São três dias de aula na semana, mas esse reforço intensivo no sábado.
Vamos falar, então, sobre o Palco Bell’Anima. Agora o final de dezembro, vai ter a inauguração desse teatro ao ar livre. Há bancos de pedra onde poderão se sentar ao ar livre, ficou em cima do morro, com a vista para o vale. Investimento de R$ 2,5 milhões. Mas me impressionou que parte da estrutura foi construída porque tu cedeu parte do terreno da tua casa.
Alguns fazem piscina no jardim, outros fazem teatro (risos). Em alguns momentos, me passavam a imagem daquele desenho da montanha atrás da minha casa, que já um espaço que a gente vinha fazendo gravações e saraus — em 2020, a gente fez cinco saraus, esse ano estamos fazendo também. Sempre foi um espaço pensando para arte. Quando veio aquela imagem do teatro, com o desenho do morro, me veio a ideia de fazer um teatro. Inicialmente, era menor, mas foi crescendo e chegou naquele tamanho, de 450 pessoas, e um palco bem considerável para conseguir receber uma orquestra de 50 músicos.
Que tipo de espetáculo vocês estão planejando levar?
A nossa ideia é começar com uma programação de sexta e sábado, e estender à medida que for construindo público, até porque a gente tem o público que vem ao recanto por conta das águas termais, dos restaurantes. A gente tem o público dos alunos. A nossa intenção é construir uma agenda cultural constante. Nós temos a orquestra jovem, que é um espaço para ela poder se apresentar, e a Bell’Anima tem uma visão de música não vinculada ao estilo, e sim à qualidade. Sair um pouco desse estereótipo de música popular, música clássica. A gente acredita na música boa. Vou te dizer o que promovemos: um concerto do Yamandu com Vagner e Paulinho, promovemos concerto piano e voz, música popular, formações de acordeão e quarteto de cordas. Ao longo do tempo, fomos desenvolvendo parcerias. Porque o músico, quando vem se apresentar para nosso público, tem toda a preparação. É um momento em que aquela experiência seja relevante para quem está ouvindo. A gente acredita muito na transformação a partir da arte, da música. Existe um respeito do público e uma responsabilidade de quem está tocando de dar o seu melhor. A intenção é criar esse ambiente.
Como o teatro se encaixa dentro do contexto do Recanto?
O Recanto Maestro, quando foi idealizado pelo Antonio Meneghetti, foi batizado como Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista, ele sempre pensou nessa ideia de formação de liderança, empreendedorismo, mas com uma formação integral do ser humano. E isso foi uma coisa que fomos perdendo ao longo do tempo com a hiperespecialização da tecnologia, das ciências. Se perdeu um pouco desse conceito de formação integral, quando tinha filosofia, artes, outros conteúdos que ajudam. Porque, no final, esses temas não são desassociados. Eu uso muito a arte para o negócio, para os colaboradores, para meus alunos, porque estamos falando de afinar sensibilidade e inteligência.
Como usa a arte no dia-a-dia da empresa?
Vou dar um exemplo: você, perante uma música ou obra de arte, precisa entrar em uma atitude de percepção, que via de regra a gente não trabalha com percepção. Tudo é muito rápido, automático, dentro de modelos prévios. Quando tu começa a perceber que é dotado de uma inteligência que é sensível, e tu começa a perceber que aquela obra que está acontecendo te toca, e onde te toca, como te comove, como te sensibiliza, você começa a perceber que tem, além do corpo e da sua racionalidade, você tem um intelecto sensível. Não dá para tirar essas coisas nossas. Então, à medida que a gente vai tendo momentos dentro desse mundo sensível da arte, tu leva isso para tua atividade, porque tu te relaciona com pessoas. Como tu vai colher a realidade daquela pessoa, como tu vai ler aquela pessoa, interagir com ela? Isso é um exercício de sensibilidade. Isso a gente usa com os alunos, com nossos colaboradores. Nós trabalhamos com tecnologia, mas nosso negócio, no final, é de relações humanas. A gente fala com gente. A gente tem que saber se comunicar, saber entender o outro. Esse é o exercício de sensibilidade. O exercício da música é saber ouvir. O de tocar em conjunto é ouvir o outro. Eu não posso tocar em cima do outro, tenho que respeitar a altura do outro e me colocar também. Como me coloco sem abafar o outro? Isso tudo é arte.
E como isso se insere dentro da ontopsicologia?
A ontopsicologia... Eu estava te falando na questão da criação da Antonio Meneghetti Faculdade... A ontopsicologia, nada mais é, do que um conhecimento a respeito do ser humano. Ela vai trabalhar todos esses aspectos que a gente estava falando. Ela vai trabalhar a questão de você conhecer a si mesmo para conhecer o entorno. Nada mais é do que o conhecimento em relação às coisas do ser humano. Quando a gente fala arte e cultura humanista, estamos falando de um legado de pelo menos 5 mil anos, que, de vez em quando, devemos retomar. Estamos falando de músicas. Quando a gente define que alguma coisa é arte? Quando a gente coloca o tempo e vemos que o tempo não apaga. Beethoven é Beethoven, Bach é Bach, Tom Jobim é Tom Jobim, pode passar o tempo que quiser. O David de Michelangelo é o David de Michelangelo, não interessa a moda que passa, é uma beleza universal. A ontopscicologia retoma esses conceitos, que são conceitos de ser humano. E isso nos dá um alargamento de compreender as coisas, de brigar menos com as coisas, buscar mais entendimentos, buscar onde temos afinidade e não divergência, onde podemos compor e não contrapor. Eu acho que é um pouco do que estamos precisando.
A inauguração está prevista para 29 de dezembro?
Isso, 29 de dezembro. Vamos ter um concerto, uma composição inédita do Vagner Cunha, que é meu sócio. Vai ser executada por uma orquestra, a base será a Orquestra Jovem e mais cinco solistas.
E a Meta, como está?
A Meta vai crescer 75% esse ano em faturamento. Nós estamos ainda com um volume grande de oportunidades, vagas em aberto. Expandindo. A expansão internacional para o Canadá. A gente acredita que ainda tem uma oportunidade das empresas acelerarem seus processos de transformação digital. E transformação digital tem um elemento de tecnologia e um elemento de cultura, relação entre pessoas, de elas conseguirem convergir em uma visão única, objetivo único, não competirem entre si. Quando falamos de transformação digital, também estamos falando de uma transformação cultural para as pessoas colaborarem mais e competirem mais.
Não é só colocar a tecnologia nova para dentro da empresa...
Essa é a parte mais fácil.
Vocês estão sempre com vagas de emprego abertas, certo?
A gente está esse ano constantemente com 450 e 500 vagas abertas. Fechamos 250 posições para o mês.
Quantos funcionários vocês já tem?
Estamos com 3 mil funcionários.
Ouça a entrevista também no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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