Construtora com 28 anos de atuação no mercado de alto padrão, a CFL planeja lançamentos imobiliários de R$ 1 bilhão para 2021 em Porto Alegre (RS) e em Florianópolis (SC). Aliás, a mesma cifra deve se repetir em 2022 em projetos de luxo, segundo os planos da incorporadora. Para falar disso e também comentar sobre os hábitos dos consumidores durante a pandemia, o plano de IPO com abertura de capital da empresa na bolsa de valores, o cenário de juro reduzido que estimula o mercado imobiliário e a escassez de matéria-prima no setor, o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com Luciano Bocorny Correa, CEO da empresa.
Qual a estrutura da empresa hoje?
A CFL tem 28 anos de história. Iniciou as atividades em Porto Alegre. Estamos presentes no Estado de Santa Catarina há 18 anos, e somos uma incorporadora com foco na região Sul e no segmento de média-alta renda. Nosso foco maior é na alta renda e atuando nas capitais Porto Alegre e Florianópolis. O histórico familiar é longo no setor. Meu pai é engenheiro civil, minha mãe é arquiteta. Nós temos 50 anos de vínculo com o setor de incorporação, imobiliária e construção.
E como está o plano de vocês para o IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial)?
Nós fizemos um movimento no ano passado nessa direção. Entendemos que o nosso segmento está muito fortalecido e com um crescimento significativo, e acessar o mercado é uma das alternativas para uma indústria como a nossa, que é bastante intensiva em capital para fazer o plano de negócios e sustentar o crescimento das companhias. Então, estamos atentos ao mercado e entendemos que nossos pares nos Estados hoje estão trabalhando com descontos muito grandes, que não refletem o que as operações estão entregando de resultado e performance. Então, estamos sem pressa, observando isso como uma janela de oportunidade para o médio prazo.
Veja a entrevista completa em vídeo:
A intenção é pegar esses recursos captados para novos projetos?
Exato. Nós sempre atuamos muito com family office, com grandes grupos participando dos nossos negócios de uma forma mais privada de investimento. A questão de acessar o mercado de capital é até uma forma de democratização do investimento. Dar acesso a quem compra uma ação para investir como as grandes famílias que fazem investimento conosco. Temos várias formas de buscar o desenvolvimento da atividade, e a gente observa isso no mercado de capitais como uma oportunidade.
Independente do IPO, vocês estão com planos de investir R$ 1 bilhão no Sul, é isso?
Sim. Nos próximos 12 meses, devemos apresentar ao mercado oito empreendimentos. Serão cinco em Porto Alegre e três em Florianópolis, que atingem o VGV (valor geral de vendas) de R$ 1 bilhão. São R$ 650 milhões em lançamentos em Porto Alegre e R$ 350 milhões em Florianópolis para os próximos dois anos, 2021 e 2022.
Todos investimentos serão de alto padrão?
Exato. Nosso foco de atuação é o médio-alto e alta renda.
Residenciais?
Atuamos em todos os segmentos: comercial, misto e residencial. Mas hoje nosso foco de lançamento está mais no residencial, que é um mercado que vem respondendo bem ao momento que vivemos. O mercado de alta renda e alto padrão vive um momento bem positivo. Então, estamos com os esforços concentrados mais em lançamentos residenciais.
E teve alguma mudança de comportamento nos clientes durante a pandemia?
Sim. Entendemos que houve uma mudança de hábito de comportamento. Foi acelerado por causa da pandemia e facilitado pela questão da tecnologia e inovação. As pessoas estão se vendo mais em casa, fazendo mais coisas a partir da sua residência. Isso mexeu na forma como as pessoas se relacionam com a moradia e com os imóveis residenciais. Vemos as reuniões virtuais, o que diminui o tempo de deslocamento, aproximou pessoas. Então, tudo isso tem outra penetração hoje no hábito das pessoas. A própria ida ao cinema. Hoje, tem streaming, acessando uma plataforma online. As pessoas estão indo menos aos restaurantes, usando cada vez mais aplicativos para fazer pedidos, compras online. Tudo isso, se olharmos, foi possibilitado pela tecnologia e foi acelerado pela pandemia. A residência está no centro de tudo. Ficamos mais tempo em casa, e as pessoas buscam mais conforto e espaço. A casa tomou outra relevância na vida das pessoas. E também tem outros itens. Hoje, os projetos novos já vêm com uma área de recebimento e armazenamento de encomendas e compras online, têm tomada para carros elétricos. Os produtos estão sendo adaptados para o novo momento das pessoas.
E sobre a falta de insumos, aumento de preços. A construção foi um dos primeiros setores a sentir isso. Considerando o porte de vocês, a forma como projetam mercado, quais são as suas perspectivas?
Esse é um ponto de atenção importante para nós. Realmente, vimos um incremento significativo do custo de reposição dos nossos produtos, principalmente matéria-prima atrelada a câmbio ou commodities, onde vimos reflexo maior na alta dos preços. É um ponto de atenção importante para o setor como um todo. Acreditamos que houve um choque na cadeia produtiva em função da pandemia. Foi um fato novo que nenhum de nós estava preparado para viver com isso. Houve, em um primeiro momento, uma suspensão da produção. Depois, no segundo semestre, voltou muito forte, o que deu uma desorganizada na cadeia produtiva, na relação de oferta e demanda. Acho que isso deve, em algum momento, buscar uma maior normalidade. Não vemos um crescimento econômico que sustente essa pressão de custo. E a questão, sim, do câmbio também. Se ele ceder um pouco, ele ajuda bastante nessa direção. Então, a gente acha que a maior pressão inflacionária já se deu, e a gente espera uma acomodação olhando um pouco para frente.
Sobre os empreendimentos, pode nos contar quais serão?
Um empreendimento que entregamos recentemente que é o VOGA Bela Vista, com apartamentos com mais de 500 metros de área privativa. É o maior que fizemos no bairro. Ele tem um significado interessante para nós, porque começamos na Bela Vista. Temos 23 prédios entregues ali e fomos, durante muito tempo, reconhecidos como uma empresa do bairro, mas, claro, ampliamos bastante a atuação. Temos também um lançamento futuro, que é um projeto no qual trabalhamos desde 2016 e devemos levar ao mercado nos próximos meses. Ele inclui um hotel de referência com apenas 84 quartos dentro do Country Club, em Porto Alegre, na porta do shopping Iguatemi. Traremos, realmente, um hotel de experiência para Porto Alegre, o que achamos que falta. Vemos projetos dessa natureza em Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte, e entendemos que Porto Alegre tem espaço para ter um hotel diferenciado. Vem com a missão de ser uma referência para cidade. Junto a ele, tem um empreendimento residencial de luxo, que é o Estância Residências do Golfe, com apartamentos de 290 metros quadrados a 375 metros quadrados privativos, que vai ter uma relação muito próxima com o serviço de hotelaria. Um outro projeto que eu traria de destaque, para o início de 2022, é bem ambicioso e feito com a Arquitectonica, um escritório internacional de arquitetura, com sede em Miami. Eles são responsáveis, por exemplo, pelo complexo JK Iguatemi, em São Paulo. É uma arquitetura internacional que vamos trazer para um projeto de 2022.
E o cenário de juro baixo ajuda...
A concessão de crédito imobiliário dobrou de tamanho entre 2018 a 2020, saindo de R$ 57 bilhões para R$ 124 bilhões, ou seja, +117,54%. A previsão para este ano de 2021 é de um crescimento de 30% atingindo R$ 160 bilhões. São recursos direcionados para o setor imobiliário. Enquanto 2020 foi marcado pelo período de maior contração econômica , com queda de 4,10% no PIB em função da pandemia, o crédito imobiliário se expandiu 58,80%. É um brutal crescimento em um período muito adverso. O volume de recursos na poupança era de R$ 420 bilhões em 2011 e, hoje, temos mais de R$ 1 trilhão de funding disponível na caderneta. No último ciclo de expansão do setor imobiliário, de 2007 a 2013, o preço dos imóveis dobrou e a taxa média da Selic foi de 10% ao ano.
Ouça também no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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