Indústria de Santa Cruz do Sul, a Mercur está ampliando a produção. Para isso, está nacionalizando o que chama de "linha de apoio", com produtos que incluem muletas, andadores e bengalas. Foram comprados equipamentos e novos processos precisaram ser desenvolvidos.
O primeiro item lançado é chamado de Muleta Canadense Fixa. Apesar do nome, a Mercur informa que o desenvolvimento, a matéria-prima e a fabricação são nacionais. O produto usa 24% menos alumínio e os acessórios levam insumos 70% renováveis.
- Os produtos que vêm de outros países chegam aqui por meio de contêineres em navios, o que representa um grande impacto ambiental. Além disso, toda a riqueza gerada com a fabricação dos itens vai para pessoas e regiões com as quais a empresa tem uma relação muito distante - diz o facilitador da Mercur, Jorge Hoelzel.
Por esse motivo, a empresa decidiu colocar a substituição das importações como um dos objetivos da estratégia de futuro.
- Queremos valorizar e incentivar a produção e a economia locais, proporcionar geração de empregos, espaços de aprendizagem aos trabalhadores, criar novas ocupações, produtos e serviços que agreguem valor à cadeia produtiva nacional - complementa Hoelzel.
A muleta foi aprimorada com a ajuda de pessoas com necessidades especiais. O novo formato evita que ela caia quando escorada na parede, também diminui a pressão nas mãos e a textura foi pensada para não machucar a pele. O processo de nacionalização exigiu muita pesquisa:
- Precisamos estudar e aprender sobre ligas, resistência, fusão e extrusão de alumínio. Para isso, buscamos parcerias com laboratórios da UFRGS, de outras universidades e empresas - conta Dayani Rabuske, especialista em projetos da Mercur.
Newton Cassanta, engenheiro responsável pelo projeto, aponta que a produção da nova muleta na fábrica da Mercur é o primeiro passo. A intenção é nacionalizar toda a linha apoio nos próximos anos.
A virada de chave
Os leitores da coluna já conhecem a mudança profunda feita na Mercur, uma virada de chave que teve início em 2008. Com sede em Santa Cruz do Sul, a empresa foi criada em 1924 para buscar na borracha as soluções para problemas enfrentados na economia local, já que os fundadores não precisavam da renda. Jorge Hoelzel é da terceira geração da família, conduz o negócio hoje e disse que esta origem foi um dos motivos para a guinada. Tudo começou quando se questionou o que aconteceria com o mundo se a Mercur acabasse. A resposta, até então, era: nada.
— Éramos muito bons no econômico-financeiro, mas precisávamos olhar para os pilares social e ambiental. Os três formam a sustentabilidade, conceito que tem ficado superficial. Há empresas que pintam parte do produto de verde para cobrar mais lá no final — explica o empresário, que trouxe para a empresa valores que segue na vida pessoal.
Uma das ações mais delicadas foi suspender a venda para a indústria do fumo, considerando que a Mercur tem fábrica em Santa Cruz do Sul. Depois, interrompeu a produção de itens como peças técnicas industriais, lençóis de borracha, pisos e isolante elétrico. Os produtos destoavam no novo propósito da empresa. O foco ficou nas áreas de Educação e Saúde, com destaque para produção de itens para o uso no dia a dia por pessoas com deficiência e materiais escolares sem personagens infantis.
A coluna foi recebida na fábrica em Santa Cruz do Sul, que tem cheiro de borracha e traz a memória do material escolar recém comprado. Relembre: Virada na Mercur teve fim dos cargos de chefia e dos personagens infantis
Ouça entrevista feita na época com Jorge Hoelzel para o programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da colunista