A disparada no preço da carne e as altas sucessivas da gasolina na finaleira de 2019 já avisavam que a inflação seria maior do que estava se projetando. As previsões foram revisadas e até o governo federal aumentou para 4,1% o reajuste do salário mínimo.
Só que o indicador pisou mais forte ainda no acelerador e veio acima até das revisões que tinham sido feitas. O IBGE divulgou nesta sexta-feira (10) um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,31% para o fechamento de 2019. É a inflação oficial do país e fico acima do centro da meta do governo federal para o ano. O que pode reforçar o encerramento no ciclo de cortes da taxa de juro Selic pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
Na mesma divulgação, veio o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 4,48%. Ou seja, maior ainda do que o IPCA e acima do aumento aplicado pelo governo federal para o salário mínimo de 2019. Considerando famílias de renda mais baixa, o indicador também é usado para negociações salariais de categorias de trabalhadores e para o reajuste pelo INSS para aposentados e pensionistas que ganham acima do mínimo. A Previdência disse que divulgaria nesta sexta o índice de aumento. Só que, com esse indicador, beneficiários que ganham acima do mínimo ganhariam reajuste maior do que quem ganha o piso nacional. Deve ter discussão aí.
Quais as perspectivas para a inflação? Dois itens pesaram bastante para que o indicador acelerasse no final de 2019. Um deles é a carne, que todo brasileiro sentiu no bolso. Há a expectativa de que ela fique mais barata ainda em janeiro. A arroba do boi caiu 15% em dezembro e os supermercados estão renovando estoques com preços inferiores. A Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS) confirma que já há reduções, mas acredita que não voltará ao patamar anterior de preços. Ocorrendo a queda, teremos pressões importantes de baixa sobre a inflação nas próximas semanas.
Sobre a gasolina, o cenário é um pouco diferente. O combustível subiu no último trimestre puxado pelo aumento do etanol, que é adicionado obrigatoriamente, e pelo reajuste da Petrobras na refinaria em novembro, após alta do preço do petróleo no mercado internacional. Isso provocou impacto em cascata com aumento do preço de pauta, sobre o qual é calculado o ICMS para recolhimento do imposto. Além disso, ainda é período de férias, o que mantém a demanda elevada.
Ainda é difícil projetar o que Petrobras fará em relação aos preços. Por um lado, o dólar caiu e o valor da gasolina na refinaria brasileira está cerca de 8% acima do mercado internacional. Por outro, ainda há receio de que a tensão no Oriente Médio se acirre e eleve mais o preço do petróleo no exterior, provocando até alta no câmbio. Por enquanto, a estatal está observando e, como já avisou, decidirá "oportunamente".
São dois itens de despesa entre centenas que integram a pesquisa de inflação do IBGE. No entanto, pesam bastante no nosso bolso e, portanto, também no cálculo. O comportamento de ambos é essencial para sinalizar o que as próximas divulgações de índices de preços trarão.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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