A deflação para o consumidor de Porto Alegre se intensificou na última pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. A primeira prévia de julho apontou -0,19%. No fechamento de junho, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S) ficou em -0,16%.
Apesar de pesquisar todas as semanas, a FGV faz sempre o cálculo considerando a variação de preços nos 30 dias anteriores. Então, nesse período até agora, a principal influência de baixa foi a gasolina. O item teve queda de 4,64% no preço. Parece pequena, mas ele pesa no orçamento, então também tem relevância grande no cálculo da inflação. O petróleo caiu no mercado internacional e isso acabou na bomba, para o consumidor. E o preço tende a cair mais, já que a Petrobras anunciou corte no preço do combustível na refinaria. Além disso, a Receita Estadual deve reduzir o preço de pauta da gasolina para o próximo mês, sobre o qual é calculado o ICMS a ser recolhido.
Alimentos também estão puxando os indicadores de inflação para baixo, o que é comum nesta época e também porque subiram nos meses anteriores, elevando a base de comparação dos índices mensais. Mas o que sempre provoca discussão é a influência de uma fruta típica do Rio Grande do Sul. Nesta época, todos os anos, costumamos ter a "deflação da bergamota". Alguns meses depois, ela aparece entre as principais pressões de alta da inflação.
Na pesquisa divulgada nesta terça-feira (9), a segunda maior influência na deflação de Porto Alegre foi dela: a fruta tão amada pelos gaúchos para comer no sol tomando chimarrão. Nas tabelas da FGV, citada como tangerina e mexerica. Mas em outras pesquisas deste ano, a bergamota era a principal pressão de queda e agora só que foi ultrapassada pela gasolina no ranking.
No último programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha), a coluna levou o questionamento frequente dos leitores para o coordenador das pesquisas de preços da FGV, André Braz. O áudio completo pode ser conferido no final desta coluna, mas, resumindo, é importante lembrar que o monitoramento da inflação é feito sempre com várias comparações, em especial, mensal, acumulado do ano e acumulado de 12 meses.
No acumulado mensal, é comum a bergamota e outros itens sazonais aparecerem. A safra chega ao mercado, o preço da fruta cai com intensidade. Tanto que figurou na pesquisa com uma redução de 27% em 30 dias. Mesmo com um peso pequeno no cálculo, acaba influenciando pela intensidade na oscilação do mês. O mesmo ocorre quando a safra termina e o consumidor começa a não encontrar mais em quantidade nas prateleiras do supermercado e na feira.
— No acumulado de 2019 e dos últimos 12 meses, que é o principal parâmetro de inflação, a bergamota não influencia o cálculo porque o peso é pequeno e desaparece a oscilação da sazonalidade — comenta Braz, que no meio da entrevista já passou a chamar a fruta de bergamota.
Para se ter uma ideia, no cálculo da inflação, a bergamota tem peso semelhante ao cinema, ao hotel, papel higiênico, comida para animais de estimação e até mesmo psicotrópico. O peso no índice reflete a representatividade do gasto no orçamento das famílias, determinado pela chamada "POF", que é a pesquisa de orçamento familiar feita pelo IBGE. Tanto que a bergamota não entra no índice de preços de todas as cidades, assim como o limão não é considerado em Porto Alegre.
Acumulados
Com a deflação de junho no IPC-S, o indicador acumula alta de 2,31% no ano e 3,61% nos últimos 12 meses. Ou seja, fica abaixo dos 4%, limite que vinha sendo ameaçado em meses anteriores com a alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis.
Saiba mais no programa Acerto de Contas. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha. Ouça aqui: