Uma rede de supermercados que adicionou o símbolo do autismo nos caixas prioritários no litoral do Rio Grande do Sul gerou um grande engajamento entre os leitores da coluna Acerto de Contas na semana passada. A mudança ocorreu nas lojas do Super da Praia.
Segundo o diretor-presidente da rede, Cesion Pereira, a medida foi tomada logo após tomar conhecimento de uma situação que ocorreu na fila de pagamento. Um cliente reclamou da mãe que estava com uma criança no caixa prioritário, ela explicou que o menino tinha autismo, mas o homem ainda teria ficado incomodado.
Pela repercussão e relatos recebidos após a publicação, a colunista quis conversar com a consumidora que passou pela situação. Mãe de Leonam Semeler, de nove anos, Maiara Semeler conta como foi:
- O senhor pediu para eu me retirar porque era um caixa para idosos. Eu disse que meu filho era autista e que tinha direito. Ainda assim, o homem ficou resmungando. Fui falar com a direção do supermercado porque sei que a empresa recebe bem, sou cliente há muito tempo, e pedi que colocassem o símbolo do autismo no caixa. Prontamente, eles colocaram o sinal e eu fiquei muito feliz.
E a situação é frequente. Maiara conta que algo parecido ocorreu dias antes, no Natal:
- Uma senhora me empurrou na fila para eu sair do caixa prioritário. Ela foi mais agressiva. Eu disse que ele era autista e então ela ficou muito constrangida. Começou a dizer que iria tirar todos da fila porque meu filho poderia ter uma crise. Não era necessário também, o nervosismo dela acabou criando constrangimento. Eu sei quando ele vai "entrar em desordem".
Em tese, autistas são considerados por lei como pessoas com deficiência. Então, são beneficiados já pelo sinal de deficiência nos espaços de atendimento preferencial. No entanto, o símbolo do autismo é importante para que as pessoas reflitam que a criança ou adulto naquela fila pode ter autismo, já que é uma doença difícil de ser percebida. E, claro, pensem antes de criticar.
- O autismo não tem cara e é chato ficar justificando para as pessoas que meu filho é autista - desabafa Maiara Semeler.
Uma leitora que se identificou apenas como Denise mandou relatos semelhantes para a coluna. Disse, inclusive, que a filha autista usa uma camista com os dizeres "Eu tenho autismo".
Aliás, Maiara Semeler diz que Leonam sentiu a felicidade dela por ver que outras famílias serão beneficiadas pela sua atitude. Quando acontece isso, ele apresenta avanços.
- Estou encantada porque ele estava em desordem semana passada e ontem pediu para eu ensiná-lo a lavar a louça - conta Maiara.
Ouça o relato da mãe para o programa Gaúcha Faixa Especial, da Rádio Gaúcha:
Padrões
A pessoa com autismo vê as situações como padrões. Sons, cores e movimentação diferentes em um supermercado podem deixá-los agitados.
— Por exemplo, o autista pode ficar incomodado com um código de barra que não passa na máquina registradora. Alguns toleram, mas outros não. É importante conscientizar porque as pessoas tendem a achar que é mau comportamento ou birra da criança, já que o autismo não é facilmente percebido — explica Clarissa Beleza, pedagoga especialista em autismo da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (FADERS).
Vários municípios intensificaram nos últimos anos a aprovação de leis que obrigam a colocação do símbolo do autismo nas placas de atendimento prioritário. No entanto, há legislação federal que assegura o atendimento preferencial para pessoas com deficiência. Ao mesmo tempo, outra lei garante que o autista seja considerado pessoa com deficiência.
O símbolo é um laço formado por peças de quebra-cabeça. Faz uma menção à complexidade e ao enigma que o autismo ainda representa para a ciência. No Super da Praia, o laço colorido agora está ao lado dos símbolos de gestantes, pessoas com criança de colo, clientes com mais de 60 anos e pessoas com deficiência.