Pouco depois do resultado confirmado para a presidência da República, a XP Investimentos disparou para investidores um material detalhado chamado "Guia Pós-Eleições". Traz projeções econômicas para o governo de Jair Bolsonaro e foi enviado para a coluna Acerto de Contas por Bruno Madruga, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Em um dos textos, a XP usa como título "Lua de mel, por ora". Diz que o mercado deve dar o "benefício da dúvida" para Bolsonaro, já que projeta um governo liberal e que conduzirá as reformas. Isso poderia levar a bolsa a 90 mil ou 100 mil pontos até o final do ano, que é de 10% a 20% acima dos níveis atuais.
"(...) a curva de juros a precificar a Selic em 7,5-8,5% em 2020, 10% 2030 (0,5-1% abaixo do atual) e em relação ao dólar, ele pode cair no curto prazo para o nível de 3,50-3,70, mas vemos os 3,70-4,00 como mais adequado dado o cenário de risco externo. Para que este movimento seja sustentável, a evolução das reformas é crucial. Caso as reformas se materializem ao longo de 2019, a bolsa poderia buscar os 125 mil pontos até o final do próximo ano. Nas páginas 4-6 exploramos os principais temas debatidos pelo time de Bolsonaro com respeito à bolsa, nossa visão setorial e os cenários para a bolsa."
- As ações ainda não têm "precificadas" as reformas, o que abre espaço para altas. A reforma da previdência andar ainda em 2018 ajuda nessa nova era financeira. Por isso, as projeções são tão boas - complementa Bruno Madruga.
Confirmado este cenário, a XP vê a bolsa de valores como o melhor ativo dentro do Brasil. Mas quais setores da economia serão mais ou menos beneficiados? Mais especificamente, quais empresas.
"Em um cenário de retomada econômica, câmbio apreciado e juros baixos, a nossa prioridade dentro da bolsa seria por: (1) Varejo (B2W e Lojas Americanas), (2) Aviação (Gol), (3) Bancos (Bradesco e Banco do Brasil), (4) Siderúrgicas (Usiminas) e (5) Locadoras (Localiza). Com uma agenda liberal em pauta, Petrobras, Cemig e Banco do Brasil seriam os nomes mais beneficiados. Do outro lado, os exportadores, como a Vale e a Suzano, tendem a ser menos beneficiados, principalmente pelo câmbio mais apreciado." - diz o documento.
Detalhamento das projeções da XP Investimentos por setores:
• Alimentos e Bebidas: como o setor é muito correlacionado à atividade econômica, as vendas seriam beneficiadas mas com certo atraso após essa potencial melhora. BRF é preferida no setor.
• Aviação: o setor seria amplamente beneficiado em um cenário de real apreciado, que promoveria menor pressão de custos, além de se beneficiar do potencial aquecimento da demanda. Gol é a mais beneficiada.
• Bancos e Instituições financeiras: uma potencial melhora da atividade impacta positivamente tanto a demanda de crédito por parte das famílias e empresas assim como a oferta por parte dos bancos. Outro efeito relevante é a redução dos índices de inadimplência. Beneficia Bradesco e Banco do Brasil.
• Celulose: apesar do potencial câmbio apreciado ser negativo para as empresas de celulose, elas continuarão se beneficiando do preço da commodity em patamares elevados, e devem ter forte geração de caixa. De fato, é um setor menos alavancado a Brasil. Suzano é preferida.
• Construção Civil: o setor de construção civil se beneficia com maiores vendas, reduções de estoques, menores riscos de distrato e aumento de preços de imóveis ao longo do tempo.
• E-commerce: o setor de venda online ainda é muito "sub-penetrado" no Brasil, então uma potencial recuperação da atividade no Brasil seria benéfica para o setor que já está em crescimento. B2W é a ação favorita.
• Elétricas: comparado muitas vezes à renda fixa, o setor elétrico se beneficiaria de juros mais baixos. Além disso, uma retomada econômica beneficiaria o setor de distribuição de energia por maior consumo. Equatorial e Cemig são as indicadas.
• Locadoras de veículos: o setor além de ainda ser sub-penetrado, se beneficiaria do potencial aquecimento da demanda e de um custo de capital mais baixo, visto o perfil capital-intensivo. Localiza é preferida.
• Mineração: o potencial câmbio apreciado é negativo para as empresas de mineração, mas elas continuarão se beneficiando do preço de metais em patamares sustentados e demanda internacional aquecida, com forte geração de caixa. De fato é um setor menos alavancado no Brasil. Vale é preferida.
• Petróleo: a Petrobras se beneficiaria de uma manutenção da política de preços que assegure o repasse dos preços de petróleo e câmbio. Além disso, a continuidade de leilões de pré-sal seria positiva para a produção de petróleo brasileira no longo prazo. Recomendação de compra de ações da Petrobras.
• Shoppings: o setor se beneficiaria do aumento do consumo e de uma ocupação maior nos shoppings em um cenário de atividade mais forte, além de se beneficiar de juros estáveis.
• Siderurgia: apesar do preço do aço ser atrelado ao dólar e, portanto, uma potencial apreciação do real ter efeito negativo, o efeito de retomada da atividade na demanda mais que compensaria tal movimento, trazendo maior utilização de capacidade e disciplina de preços. Usiminas é a mais beneficiada.
• Vestuário: o setor de varejo vestuário seria beneficiado numa potencial melhora de expectativa e renda disponível, que aqueceriam as vendas. Lojas Renner é a rede mais beneficiada.