Cada divulgação de inflação tem sido a mesma coisa. Os índices vêm abaixo do esperado pelo mercado e mesmo a alta dos combustíveis não é suficiente para o índice não recuar.
Nesta quinta-feira, o IBGE divulgou o IPCA-15, que é considerado uma prévia da inflação do mês. Em setembro, ficou em 0,11%, frente a 0,35% de agosto. Além disso, o acumulado de 12 meses é de 2,56%, abaixo do piso da meta do Governo Federal e o índice mais baixo para o mês desde 1998.
A estatística mostra que os preços dos alimentos puxam a queda. O grupo recuou 1,54%, puxado pelo tomate, feijão-carioca, alho, açúcar e leite. Todas as regiões metropolitanas pesquisadas tiveram queda nos preços dos alimentos.
Só que o leitor comenta essas matérias dizendo que vai no supermercado e cada vez gasta mais e sai com menos sacolas. Importante lembrar que o cálculo da inflação considera alimentos básicos consumidos pela família média brasileira. Além disso, cada produto tem um peso diferenciado no cálculo considerando o quanto consome do orçamento das pessoas. É preciso cuidado ao achar que o consumo médio brasileiro é o da nossa casa. Nem sempre somos a estatística.
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Outros leitores vão além na crítica, ainda mais quando atribui-se a queda à boa safra. Dizem que os preços dos alimentos estão caindo porque caiu o consumo, o que seria reflexo dos anos de recessão da economia e seus impactos na renda familiar. Então, levamos estas questões a dois especialistas.
Economista da gestora de fundos Quantitas, João Fernandes:
"As safras realmente foram muito boas. Não se pode tirar o efeito safra boa sobre os preços dos alimentos. É uma questão de oferta e demanda. A crise não provocou uma queda significativa no consumo de alimentos, ainda mais nos itens que estão puxando a inflação para baixo, como o feijão e o leite. Estes produtos tiveram aumento de oferta. Agora, há sim uma queda na chamada inflação de preços livres, que são os serviços e os bens de consumo. Esta inflação desmanchou na recessão, caindo pela metade para 4,83% (acinda acima do IPCA geral). As pessoas comprar menos eletrodomésticos, móveis, automóveis, vestuário e até itens de higiene. Para fechar, há ainda o impacto da taxa de câmbio, com a queda do dólar reduzindo preços de importados."
Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz:
"Os alimentos seguem a inflação central. Quando os alimentos subiam, eu dizia que não eram só eles. Agora que estabilizou também não são só eles que estabilizaram. Evidentemente que produtos perecíveis como frutas, legumes, folhas variam muito seus preços de acordo com a safra, mas representam muito pouco no índice. Grãos e grandes safras não têm correlação com preço de alimentos. Zero. Já fizemos mil testes econométricos para provar isso. Se o motivo fosse a recessão, como explicar que 2015 e 2016 tiveram quedas de PIB enormes e inflações imensas? A inflação caiu por uma razão simples, mas que no Brasil parece que não aprendemos. A política monetária está correta. O Banco Central existe exclusivamente para isso e sua atuação nos juros, no compulsório, no crédito e no spread está garantindo o resultado sobre a inflação. Há também uma nova relação do Tesouro Nacional com o BNDES, além do teto dos gastos. Ou seja, a parte fiscal também tem ajudado."