
Imagens raras, quase impossíveis, vieram do norte da Faixa de Gaza nos últimos dias. Palestinos — civis, gente comum, sem fuzil na mão e sem slogan assassino na testa — foram às ruas para protestar contra o Hamas. Sim, contra o Hamas. Gritando por liberdade, exigindo a devolução dos reféns, pedindo o fim da guerra. Gente cansada, exausta, e com mais coragem do que todos os líderes mundiais somados e 100% dos universitários mimados metidos a revolucionários nos campi americanos.
Protestar em Gaza não é como postar um carrossel no Instagram ou gritar pela morte de judeus em Manhattan. Lá não tem coffee break nem professor pra dar ponto extra por militância. Lá, levantar um cartaz pode custar a vida. Ainda assim, levantaram. E isso deveria estar estampado em todo jornal, abrindo todos os noticiários. Mas não está. Porque desmonta a narrativa preguiçosa e mentirosa de que o Hamas é apenas uma força de resistência.
Resistência ao quê? À liberdade religiosa? À democracia? Aos direitos humanos? Talvez. Porque o que o Hamas representa — e aqui não há margem para dúvida — é o fundamentalismo religioso sanguinário, o culto à morte, o ódio irracional ao diferente. E, se esse diferente for judeu, então...
Essas vozes que hoje ecoam em Gaza são também um recado ao mundo: existem palestinos — muitos — que querem a paz. Querem viver. Querem dois Estados, sim, mas querem antes se ver livres dos que sequestraram não só os reféns israelenses, mas a própria possibilidade de futuro da Palestina.
E falando em sequestro, o da verdade também anda em alta. O governo brasileiro, por exemplo, correu pra cobrar explicações de Israel pela morte de um brasileiro-palestino numa prisão. Tudo certo. O Estado de Israel é democrático, tem instituições e deve responder. Mas quando o gaúcho Ranani Glazer foi brutalmente assassinado pelo Hamas no 7 de Outubro, o mesmo Itamaraty esperou três dias para soltar uma nota mequetrefe que lamentava “o falecimento” de Ranani. Como se ele tivesse tropeçado na escada. Nem uma linha sobre quem o matou. Nenhuma cobrança ao grupo terrorista. Nada.
Esse silêncio seletivo não é diplomacia: é covardia. É hipocrisia. E é, sim, antissemitismo.
Tomara que o protesto de Gaza seja só o primeiro. Porque quando os próprios palestinos começam a dizer que o Hamas não os representa, o mundo precisa, no mínimo, escutar. Mesmo que não queira.