Como todo recomeço, o novo ano revive esperanças mesmo sendo a continuidade do que fomos nos últimos 12 meses. As mudanças só expandem e multiplicam o que somos. Nosso cordão umbilical está em 2019 e é preciso descobrir o que fomos para saber como devemos ser. Não há futuro sem passado.
A esperança é realizar o que se deseja e que virá calcado no que somos.
Descobrir o que somos é saber o que seremos
Limito-me ao âmbito estadual para falar da esperança. A área nacional foi tão atropelada pelas odiosas confusões do governo federal, que densa neblina tapa o ambiente até no tórrido verão.
A névoa cai, também, sobre o Rio Grande, mas aqui temos sabido resistir e enxergar até com cerração. Num exemplo de resistência ao absurdo, as professoras seguem decididas a impedir que terminem com a carreira do magistério. Educar é a mais bela atividade humana e não pode ser confundida com maquiagem num salão de beleza, como pretende o governo.
O Rio Grande soube entender, também, que a crise climática ameaça a vida no planeta. Os alertas da ciência (que o papa Francisco e a ONU reiteram) sobre a urgência de excluir os combustíveis fósseis até 2030, fez a sociedade civil se mobilizar contra a pretendida mina de carvão a 12 quilômetros de Porto Alegre, à beira do Rio Jacuí, que deságua no Guaíba.
Diferentes organismos – da OAB à Ajuris, do Ministério Público à Amrigs e aos Médicos de Família, do Sindicato dos Engenheiros aos técnicos da Fepam e outros –, além de médicos, geólogos e biólogos, alertam sobre os danos da mina que, em 10 ou 15 anos, infestará o ar da área metropolitana e fará do Guaíba um pestilento lixo líquido.
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O geólogo Rualdo Menegat, professor da UFRGS e da Unesco (ramo científico da ONU), é um dos tantos que alertam sobre as nefastas consequências da pretendida mina. Frisa que o carvão é mineral complexo, com 76 elementos perigosos, como enxofre e os radiativos urânio e selênio. O cádmio afeta o pâncreas, o mercúrio contém neurotoxinas que se expandem a centenas de quilômetros. O enxofre reage com a água e vira ácido sulfúrico.
A pretendida mina lançará no ar 416 quilos/hora de partículas tóxicas, em 1.056 explosões ao ano. Dia e noite, surgirá, então, uma neblina ácida. O desvio de dois arroios afetará o aquífero quaternário junto ao Delta do Jacuí, um filtro natural que desaparecerá.
Um dos que nos lembraram tudo isto, Menegat acaba de aparecer, agora, em todo o mundo, como o descobridor do secular segredo sobre a construção, no século 15, de Machu Picchu, a cidade sagrada dos incas, a 2,3 mil metros de altitude, no atual Peru. Menegat explicou como os incas aproveitaram as falhas geológicas no topo da montanha e, sem ferramentas, edificaram a portentosa cidade cuja construção desafiava o saber da engenharia.
Quem desvendou o que ninguém explicava também nos adverte sobre o que evitar para reter a esperança.