A bandidagem nos rodeia. Violência, roubo, fraude e corrupção parecem, até, novos deuses a nos guiar e aos quais dizemos "Amém".
Agora, um "canetaço" do presidente do Supremo Tribunal, Dias Toffoli, destruiu quase tudo o que a Justiça fez nos últimos anos para combater o alto crime que a Lava-Jato desbaratou. Toffolli atendeu a um pedido do atual senador Flávio Bolsonaro (investigado por aparente corrupção) e mandou suspender os processos e investigações com base em dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Receita Federal e do Banco Central. O "canetaço" não beneficia apenas o filho do presidente da República, mas também centenas de investigados por corrupção, numa ameaça à continuidade da Lava-Jato.
A Polícia Federal já mandou suspender todas as investigações de fraudes obtidas através do Coaf e da Receita Federal. A procuradora-geral da República criticou o "canetaço". Os procuradores da atual etapa carioca da Lava-Jato chamaram o ato de Toffoli de "brutal absurdo", alertando que, de fato, anula toda a operação.
Dois ou três condenados de pequeno porte já pediram a anulação das sentenças, antecipando a maré próxima... Depois virão "os grandes" e o sonho de justiça será pesadelo.
O presidente do STF, porém, pensa o oposto. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo na sexta-feira, Toffoli acusou os órgãos de controle financeiro de terem "sede de poder". Reconheceu que "têm importância enorme", mas – frisou – "devem se submeter ao controle do Judiciário".
Se os órgãos de controle não podem controlar por si sós, por que existem?
Onde fica a sede de Justiça a que aspiramos durante séculos e que a Lava-Jato havia amenizado em nossas gargantas?
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Somos um país excêntrico, onde tudo se confunde. A criticada indicação de Eduardo Bolsonaro (o chamado "filho 03" do presidente da República) como embaixador nos Estados Unidos ganha novo contorno, muito além das credenciais que ele próprio revelou: ter fritado "hamburgers" nos EUA, falar inglês e espanhol, além de uma pós-graduação em Economia, em São Paulo, mesmo não concluída, pois nunca apresentou a tese final.
Agora, o presidente Bolsonaro foi sincero: "Pretendo beneficiar meu filho, sim. Se eu puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou. Mas filé mignon nada tem a ver com essa história", declarou nas "redes".
E adiantou: "Se eu quiser, tiro o Ernesto Araújo do Ministério de Relações Exteriores e nomeio o Eduardo".
A sede de poder não estará no poder?