A longa greve dos professores me leva aos tempos de criança. Ouço ainda a voz rouca e terna de dona Maria Bezerra, a mocinha da Capital que se deslocou ao interior para nos transmitir as primeiras letras e noções do mundo exterior. No século 20, professor era função essencial, tinha status e correta remuneração.
A humanidade só saiu da caverna porque uma geração educou a outra
Jamais o professorado pensaria em greve por não receber o salário (hoje ínfimo) a que foi condenado agora, como se educar fosse pecaminosa vergonha que o Estado suporta, como a droga.
Educar é missão civilizatória, inerente à vida. A humanidade só saiu da caverna porque uma geração educou a outra. Por tudo, a greve é penosa: 90% dos professores são mulheres e também a sensibilidade feminina foi ferida no protesto "in extremis" a que foram levadas pela inépcia dos governantes.
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O Estado está em falência financeira e de iniciativas. A culpa não é só de Sartori que, em parte, recebeu um moribundo fantasiado de plena saúde, sem que os antecessores reconheçam a culpa no desastre. À exceção de Jair Soares (o primeiro eleito após a ditadura), todos os governos somaram ao déficit ainda mais déficit. Governar era gastar. Ou, até, roubar, como no assalto à CEEE na gestão Pedro Simon (que em valores atuais ronda R$ 1 bilhão), com os ladrões ainda à solta e sem sentença judicial.
Indago: a emergência não exigiria, ao menos, o "mea culpa" dos "ex" para sanar, ou minorar, a pobreza de ideias do atual governo? Por que só os servidores da Justiça e do Legislativo (ambos com alta remuneração) recebem em dia?
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Também o setor privado deve aportar ideias sem aproveitar-se do infortúnio. Mas já há quem sugira a extravagância de reabrir a jogatina e plantar cassinos, como se isso fosse produzir e desenvolver, tal qual fazem o agro, a indústria e o comércio.
Jogatina não é diversão ou entretenimento, mas vício e doença. Aquele homem que metralhou um recital de música em Las Vegas, nos EUA, onde formou a fanática mentalidade? No vício do jogo, que sacrifica tudo na ânsia de ser poderoso.
Aqui, onde até o presidente do nosso Comité Olímpico, Arthur Nuzman, arma uma organização criminosa, o que que poderá surgir do jogo da roleta, que nada têm de desportivo?
Um vendaval, maior do que de sete dias atrás!
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P.S. _ Segunda-feira, 9, a partir das 18h30min, lanço meu novo livro "As três mortes de Che Guevara", na Saraiva do Shopping Moinhos. Ali mostro como ele começou a morrer em Cuba, agonizou no Congo e foi executado na Bolívia em 1967, há exatos 50 anos. ( FIM )