* Jornalista e escritor
O caminho para recuperar o Brasil é ativar a fabricação de flechas e tornozeleiras. E com urgência, pois o procurador-geral Rodrigo Janot já avisou que "enquanto houver bambu, lá vai flecha", e pode faltar matéria-prima nestes 35 dias que ainda sobram para que ele maneje o arco e faça mira na bandidagem, antes de sair em setembro.
Janot é a única herança do governo Dilma que perdura com a bênção geral e unânime da nação. Ou da imensa maioria, pois alguns – como o presidente Temer – o consideram um reles perseguidor, um canibal como aqueles que (dizem) havia aqui em 1500. Agora, sentindo-se "perseguido de forma obsessiva" pelo procurador-geral, Temer
recorreu ao Supremo Tribunal, pedindo declarar Janot "suspeito por inimizade", para levar adiante toda investigação que envolva o presidente da República. A tal "inimizade" se fez clara – disse Temer, através do advogado – quando Janot, reunido com jornalistas, garantiu que "enquanto houver bambu, lá vai flecha".
A metáfora foi interpretada como algo persecutório ou brutal, como se a linguagem jurídica devesse ser comezinha e sem voos. Ou Temer quer se agarrar no bambu antes de virar flecha?
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Lula da Silva fez o mesmo com Sergio Moro no caso do tal apartamento triplex e, agora noutro processo, de novo pediu que o juiz seja declarado "suspeito" por "inimizade" com o ex-presidente.
Essa pretensão de adaptar o aparelho judicial às conveniências dos réus seria ridícula se proviesse de dois marginais do crime. Vinda de quem é ou foi chefe de Estado e de governo, como Temer e Lula, torna-se brutal e apavorante. Se ambos se julgam semideuses acima da lei, quanto horror não praticaram ou praticam nas catacumbas do poder sem jamais vir à superfície?
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Mas nem só com bambu feito flecha se recupera o país. Os créditos do BNDES que, com Lula-Dilma-Temer, lubrificaram as máquinas dos irmãos da Friboi e as sondas petrolíferas de Eike Batista, hoje devem irrigar a fabricação emergencial de tornozeleiras. De artesãos a grandes indústrias, todos devem ser mobilizados, num mutirão geral, tipo "esforço de guerra".
Do contrário, por falta de presídios, corremos o risco de que Temer e Sartori requisitem nossas casas e apartamentos para receber réus e condenados da Justiça em aluguel temporário, com reserva pela internet. Seria para isto que Temer recebeu a futura procuradora-geral no palácio residencial às 10 da noite?
A não ser que, antes disso, queimem-se os bambuzais e as flechas de Janot…
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