Os heróis intelectuais do século 21, para mim, não são os pensadores que elaboram teorias encastelados em suas torres de marfim. O pensamento abstrato deve ter seu lugar, mas nem sempre é suficiente para refletir uma visão fidedigna da realidade. Durante a greve dos caminhoneiros, ficou clara a distância entre a interpretação daqueles que imaginaram uma leitura baseada em suas crenças e aqueles que saíram às ruas para fazer pesquisa de campo e entrevistar os manifestantes. Os primeiros tendiam a inventar uma versão dos fatos guiada pela ideologia; os segundos mostraram que a realidade é mais complexa.
Penso na revolução provocada por psicólogos como Daniel Kahneman (Nobel de Economia de 2002) e Amos Tversky, que deram origem a um novo campo do conhecimento. São pensadores que se dedicaram a revelar, com base em experimentos, os erros de julgamento que cometemos em nossas vidas.
Às vezes, os estudos revelam coisas surpreendentes. Uma pesquisa israelense de 2014 testou uma nova maneira de estimular pessoas com ponto de vista radical sobre o conflito israelense-palestino a serem mais moderadas. Tendo em vista que a exposição de argumentos contrários provavelmente levaria os radicais a reforçar suas próprias crenças como forma de reação, os psicólogos exibiram um vídeo com uma visão ainda mais radical do que a deles.
O resultado é que muitos deles julgaram as ideias do vídeo absurdas de tão radicais e acabaram percebendo o extremismo de suas próprias opiniões. O estudo mostrou ainda que, um ano após o experimento, os participantes continuavam com uma visão pacifista do conflito israelense-palestino, inclusive tendo votado em partidos mais moderados. A amostra foi pequena, mas suficiente para comprovar que nenhuma teoria é tão criativa quanto a mente humana.