Em 2016, quando o Dicionário Oxford elegeu "pós-verdade" como a palavra do ano, muitos estavam preocupados com as mentiras e meias-verdades divulgadas inclusive por figuras públicas como o candidato eleito à presidência dos Estados Unidos.
Já estava clara a tendência das pessoas acreditarem em notícias falsas que correspondessem a seus anseios ideológicos. Mas, por outro lado, havia pelo menos a esperança de que a verdade triunfaria assim que a mentira fosse desmascarada. Até gigantes da internet começaram a se mobilizar para que seus usuários tivessem mais clareza do que é notícia e do que é boato.
A ideia de que devemos separar o joio do trigo por uma sociedade melhor continua sendo fundamental, mas enfrenta um desafio cada vez maior: pelo menos uma parte da população parece disposta a ignorar os mecanismos reconhecidos de verificação – evidência histórica, pesquisa acadêmica, checagem jornalística – para eleger arautos que divulgam a pós-verdade que cada um deseja ouvir. Entre esses arautos, estão as guerrilhas ideológicas virtuais, os veículos de notícias falsas e os autores de livros intelectualmente desonestos.
Pense na história mais absurda na qual deseja acreditar e você encontrará parceiros para conferir a ela um verniz de realidade. Nunca esteve tão próxima de nós a máxima segundo a qual uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.
É ingrato argumentar com base em evidências quando as evidências são cada vez menos relevantes – e as crenças, cada vez mais inabaláveis. O futuro será escrito não por historiadores, mas por jovens metidos a engraçadinhos cuja forma de expressão é o escracho dos que pensam diferente.