Você aceitaria viver um grande amor se soubesse que experimentaria depois uma profunda desilusão? Buscaria o emprego dos sonhos se soubesse que um dia seria demitido? Nasceria de novo na mesma família se fosse informado que perderia um ente querido?
Embora jamais saibamos de antemão o desfecho dos episódios mais significativos de nossas vidas, é muito provável que topássemos, sim, passar por tudo isso mesmo sabendo que um dia teríamos uma grande tristeza. Mais do que isso: quando nascemos, assinamos um contrato simbólico – com Deus, com uma energia superior ou com o acaso, escolha a sua crença – segundo o qual ficamos cientes de que, ao lado das grandes alegrias, teremos momentos de luto. É uma das nossas poucas certezas: você um dia vai se dar muito mal.
Se perguntar a qualquer colorado se vibraria com a conquista da América e do mundo em 2006 e com um novo título da Libertadores em 2010 mesmo sabendo que no fatídico ano de 2016 o clube cairia para a Segunda Divisão do Brasileirão, tenho certeza de que esse sujeito gostaria de viver tudo isso novamente.
Julguei que eu estava vacinado contra a queda do Inter por ter simplesmente perdido o interesse no futebol nesses últimos anos (depois de ter vivido com gosto os títulos internacionais), mas estava completamente enganado. Durante muito tempo, o fato de o clube nunca ter caído para a Série B era praticamente tudo o que tínhamos – nós, crianças e jovens que não havíamos testemunhado os gloriosos anos 1970 e que basicamente só tínhamos o título da Copa do Brasil de 1992. Perdemos, agora, algo importante de nossos tenros anos.
Não quero soar muito dramático, mas tudo tem a ver com a maneira como encaramos as tragédias. Quem nunca caiu não sabe o que é levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Aqui com meus botões, não desejo uma vida mediana a ninguém. Qualquer escritor em início de carreira sabe a importância de uma curva dramática, de uma peripécia, de uma reviravolta ou seja lá o nome que você queira dar. Faz parte de uma boa história. Os gremistas transformaram um retorno à Série A na Batalha dos Aflitos. Isso, sim, é saber construir uma narrativa. Que sirva de exemplo.
Na vida, todos cairemos um dia para a Série B. Alguns de nós voltarão à série A.