Desde cedo, aprendemos a pensar no desenvolvimento das artes como uma evolução linear. No caso da literatura brasileira, que é ensinada no colégio, a ordem dos períodos é: barroco, arcadismo, romantismo, realismo e naturalismo, parnasianismo, simbolismo, pré-modernismo e modernismo. Já o pós-modernismo ficou conhecido como esse momento difuso da contemporaneidade em que diferentes gêneros e estilos coexistem, sem que haja necessariamente uma linha-mestra pela qual nossos sucessores identificarão as artes de nosso tempo (entendo como "artes" a literatura, as artes visuais, a música etc.). Assim como na ciência, as novas revoluções culturais acontecem em ritmo muito mais rápido do que no passado. Conseguimos identificar algumas apostas estéticas da atualidade, como o retorno do real e a autoficção, mas isso não constitui de forma alguma um espírito hegemônico de nossa época.
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Os períodos históricos costumam ser identificados depois de acontecidos, com o discernimento crítico que só o tempo oferece. Mesmo assim, há pontos de debate. Se a diferença entre impressionismo e pós-impressionismo é clara para alguns estudiosos da pintura, não o é no entendimento mais amplo da sociedade. Um exercício interessante: ao procurar no Google por estas duas expressões, os resultados são bem parecidos em termos de imagens. Depois, o prefixo "pós" virou moeda corrente no discurso crítico, cada vez mais ávido em decretar a morte de algo e o surgimento de uma novidade. Só que aquilo que é enterrado, em geral, não morre direito - pelo contrário, insiste em retornar, às vezes sob nova roupagem.
Nem sempre as teorias dão conta da multiplicidade de manifestações sincrônicas dentro de uma determinada linguagem. No pensamento sobre as artes cênicas, o pós-dramático e a performance tornaram-se palavras-chave privilegiadas, induzindo uma grande quantidade de estudiosos a acreditar que a velha dramaturgia morreu ou a desconsiderar deliberadamente a presença de outras manifestações cênicas que não as ditas de vanguarda (embora essa palavrinha esteja um pouco em desuso). O cenário dos palcos hoje parece muito mais uma nuvem de palavras, dessas que se utiliza para identificar tendências na internet, do que o domínio soberano de uma determinada orientação. Entre estas palavras-chave, estão "performance", "pós-dramático", "dramático", "comédia", "blockbuster" etc. Depois do pós-tudo, o que vem?