Allan dos Santos é um ativista convertido em jornalista que fundou, ao lado de Ítalo Lorenzon, um canal no YouTube chamado Terça Livre. O nome esquisito vem da circunstância em que tudo começou. Os dois amigos queriam fazer algo na internet para expressar e dar voz a ideias e visões de mundo que não encontravam espaço no que chamavam de mídia mainstream. O país vivia a explosão dos movimentos de rua de 2013, ponto de inflexão na história recente do país e nascedouro de transformações que ainda estão em curso, como água que procura o seu leito. Como dois sujeitos prenhes de vontade e nenhum capital, trataram de combinar um jeito de fazer o sabe-se-lá-o-quê na internet sem comprometer o trabalho e os compromissos de cada um. O dia que um podia, o outro não podia. Até que o maluco 1 perguntou e que tal terça-feira, então? e o maluco 2 se animou. "Fechado, terça eu tenho livre."
Apesar de toda a precariedade do início, a visão que Allan e Ítalo tiveram se confirmou: havia de fato uma demanda reprimida no Brasil profundo, como podiam confirmar pela espiral de audiência interessada nos conteúdos do canal proclamadamente conservador.
O crescimento teve dois efeitos.
Um deles foi empolgar os fundadores e encorajar Allan, líder do projeto, a buscar na comunidade de espectadores contribuições e donativos que bancassem a modernização dos estúdios do Terça Livre, a criação de uma equipe de analistas, apresentadores e repórteres, além do lançamento de uma revista digital e do oferecimento de cursos online. O segundo efeito da prosperidade foi colocar Allan e seu Terça no que eu chamaria de Paredón brasileiro - o lugar de silenciamento de vozes e fusilamiento de reputações, sob o olhar cabisbaixo de muitos e a euforia explícita de alguns.
A perseguição ao Terça Livre é obra de um séquito de algozes, por ação ou por omissão. Na primeira categoria, está o carrasco da liberdade de expressão, um ente que veste preto e segura uma espada poderosa que um dia - quanta saudade dela - já foi da Justiça.
Na segunda categoria, estão aqueles que procuram desesperadamente uma razão para não ver o que os olhos teimam em mostrar.
Ia esquecendo uma terceira categoria.
A cegueira deliberada e cúmplice dos sócios da censura.
Mas, ainda que deplore, eu os entendo. Já pensou se o Terça Livre tivesse conseguido seu intento de se transformar em uma emissora de rádio e TV, escapando à censura das gigantes digitais?
Um clássico do mestre Paulinho da Viola, Sinal Fechado, explica tudo de um jeito que só os clássicos conseguem, com notas de realismo e dor.
- É a alma de nossos negócios.
Dedicado às dezenas de funcionários e profissionais de comunicação que perderam seu emprego, e aos milhões de brasileiros que não aceitam o cala-boca.