“A continuarmos marchando assim, em 2022 chegará o momento em que você terá uma última chance. Você e seus iguais. Portanto, não titubeie. Se você desprezar todos os avisos que lhe tiverem sido dados até então, a sanção inevitável lhe alcançará. Não agora, porque somos pacientes, magnânimos. Mas de 2022 não passa, não pode passar. Acerte o passo, por favor, e evite que tenhamos de levantar a clava forte da Justiça. Ela está em nossas mãos.
Sempre quisemos o melhor para todos. Mas querer não é o bastante. Olhe para você, olhe para todos que são como você. Onde querem chegar? Não há outro caminho possível, como já deixamos claro. É tão difícil entender, transigir, obedecer? Observe que nós estamos dando a você todo o tempo. Temos sido tolerantes na advertência, pedagógicos na insistência. Mas se você permanecer irredutível, que opção terá nos restado?
Você alega ter dúvidas, e dúvidas que lhe angustiam. Até podemos compreender. Afinal, somos empáticos, procuramos sentir a angústia do outro. Compreenda, porém, que a dúvida, neste caso, não é útil. Ela é insidiosa, tanto que acometeu você, paralisou você. E, como um vírus, se espalha por outras pessoas, que contaminam outras mais com as suas dúvidas inconvenientes.
Veja que, de tão solerte, a dúvida infectou até mesmo grandes cientistas ligados a universidades renomadas e os levou a produzir papers e estudos que minam a necessária coesão que perseguimos. Perceba o conceito: coesão. Precisamos avançar todos juntos. Não é hora de dissidência, mas de mobilização. Não faça perguntas para as quais já fornecemos as únicas respostas admissíveis. Tome cuidado com as armadilhas do pensamento. Não dê ouvidos à doce melodia de expressões como direitos e garantias individuais. Vivemos o primado do coletivo. Lembra do conceito? Coesão.
Para o seu bem, acerte o passo. Não nos deixe sem opções, ou teremos de recorrer à sanção inevitável.
Perceba: em 2022, o Brasil completa 200 anos de independência. No dia 7 de setembro, a grande data, sua caderneta deverá conter a anotação de todas as doses que lhe tiverem sido exigidas. Seis, sete, oito, não importa quantas sejam. Todas serão essenciais. Encare como doses de empatia.
Será sua última chance de carimbar seu passaporte para um novo Brasil, ou recolher-se à condição de pária, sem direito a votar ou a ser votado. E se tal não for o bastante para curar você de dúvidas indesejáveis, atente para um agravante comportamental que mesmo nós, até aqui tão magnânimos, não toleraremos.
Confine-se com sua dúvida. Não a transmita, não a irradie, faça quarentena intelectual, até segunda ordem. Porque se você se revelar um agente contaminante de hesitações imprestáveis a sanção inevitável para você poderá ir além da mera perda dos direitos políticos.
Por enquanto, é tudo o que você precisa saber.”