A passagem da Seleção Brasileira por Porto Alegre está sendo marcada pela crise política que atravessa a CBF. E também por situações que estão ocorrendo aqui e que serão fundamentais para a definição do futuro do futebol brasileiro, incluindo três questões importantes: a permanência ou não de Rogério Caboclo na presidência da CBF, a permanência ou não de Tite como técnico do time e a decisão se os jogadores vão disputar a Copa América.
A semana foi tensa para o presidente da CBF. Denunciado por uma funcionária da CBF por assédio sexual e moral, ele cada vez mais perde força. Nos bastidores, figuras influentes da CBF querem tirar Caboclo do comando. Com os patrocinadores da entidade pressionando por uma solução, a situação está cada vez mais delicada. Antes mesmo da denúncia do assédio, outras questões já incomodavam, como a relação difícil com outros dirigentes, e o vazamento de áudios que mostraram como Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, ainda tem poder na entidade.
O problema é que Rogério Caboclo resiste. Ele não pretende sair de cena tão fácil. Na sexta-feira (4), esteve em Porto Alegre e trouxe no jatinho da CBF os pentacampeões Gilberto Silva e Cafú para acompanhar o jogo das eliminatórias para a Copa. O dirigente foi ao gramado do Beira-Rio e abraçou Tite. No vestiário, participou da tradicional "rodinha" com os jogadores antes do jogo contra o Equador e provocou constrangimento geral. O objetivo é demonstrar força.
Mas talvez não seja ao suficiente. A articulação que está sendo feita por dirigentes influentes, incluindo Marco Polo Del Nero, é para que Caboclo saia de cena. Para isso, existem duas possibilidades. A primeira é um afastamento provisório, até que tudo se acalme. Neste caso, quem assume é o vice-presidente mais velho, Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, que por diversas trapalhadas e gafes, está fora dos holofotes.
A segunda possibilidade é a renúncia. Aí sim um nova eleição seria chamada. Mas apenas os vice-presidentes poderiam participar: Antônio Aquino (Acre), Castellar Neto (Minas Gerais), Ednaldo Rodrigues (Bahia), Fernando Sarney (Maranhão), Francisco Noveletto (Rio Grande do Sul), Marcus Vicente (Espírito Santo) e Gustavo Feijó (Alagoas), além do próprio Coronel Nunes (Pará).
Neste sábado (5), Caboclo permanece em Porto Alegre. Hospedado em um hotel no bairro Bela Vista, está acompanhado de dirigentes da CBF, e fez vários contatos por telefone no saguão. Em voz alta, deixou claro que sequer cogita a possibilidade de a Copa América não acontecer.
Esta é a situação dos gabinetes. E que tem um reflexo direto no comando do time dentro de campo. Já está claro que Tite está desconfortável no cargo. A possibilidade de saída é algo que está sendo discutido. Nas entrevistas, o técnico não dá detalhes, mas deixa claro que está descontente. E são vários motivos para isso.
Em abril, vazaram áudios de uma conversa de Rogério Caboclo com Edu Gaspar, então diretor de seleções da CBF. Na conversa, o presidente fazia críticas ao trabalho da comissão técnica e mostrava o claro desejo de demitir Cléber Xavier, auxiliar da confiança de Tite, o que acabou não acontecendo.
Depois, a CBF tentou contratar Xavi e Muricy Ramalho. Os dois recusaram o convite, mas isto criou um clima ruim na comissão técnica. Por fim, a condução da negociação para o Brasil receber a Copa América também originou um descontentamento geral. Se até a próxima semana Rogério Caboclo cair, aumenta a chance de Tite ficar. Mas, se ele resistir, o futuro do técnico na Seleção Brasileira está seriamente ameaçado. Neste caso, Renato Portaluppi é a primeira alternativa.
Por fim, os jogadores. É fato que pegou muito mal no grupo a decisão do país receber a Copa América. Na entrevista após o jogo contra o Equador, o capitão Casemiro deixou isso claro. E disse também que os jogadores vão se posicionar de maneira mais forte em breve. Isto deverá ocorrer após a partida de terça-feira (8), contra o Paraguai, em Assunção, pelas eliminatórias da Copa do Mundo.
Por enquanto, a delegação segue em Porto Alegre. A viagem para o Paraguai ocorre apenas na segunda-feira (7). Na concentração, no Hotel Sheraton, os jogadores novamente vão se reunir neste final de semana. Eles estão preparando uma espécie de manifesto, onde pretendem deixar claro que são contra a realização da Copa América no Brasil, pelo momento que o país atravessa no combate à pandemia. Mas afastando qualquer conotação política nesta decisão.
Sobre disputar ou não a Copa América, a informação que eu recebi é que isto não está totalmente definido. Mas os líderes da Seleção entendem que é preciso respeitar a hierarquia. E não jogar seria um desrespeito. Por isso, muitos defendem esta ideia. Jogar, mas deixando claro que estão insatisfeitos com o que está ocorrendo.
A estreia na Copa América está marcada para domingo (13), contra a Venezuela, em Brasília. A inscrição dos jogadores tem que ser feita até quinta-feira (10). Em seis dias, tudo terá que ser definido. Se dentro de campo está tudo bem, com 100% de aproveitamento nas eliminatórias, fora de campo o futebol brasileiro passa por um dos momentos mais tensos da história.