Desde o dia 31 de maio, quando a Conmebol anunciou o Brasil como sede da Copa América, a polêmica foi enorme sobre a realização da competição no país, em um momento de dificuldades no combate à pandemia do coronavírus. No início de junho, os jogadores da Seleção Brasileira chegaram a pedir ao então presidente da CBF, Rogério Caboclo, para que o torneio não fosse realizado aqui. A tentativa não deu certo, e os jogos já começaram, com a abertura em Brasília, no jogo em que o Brasil venceu a Venezuela por 3 a 0.
Já na largada, um grande problema, com os 13 casos positivos de covid na Venezuela. Para salvar a competição e evitar o que aconteceu na Libertadores, quando o volante Enzo Pérez teve de jogar como goleiro do River Plate, a Conmebol mudou o regulamento e agora permite a troca na lista de inscritos, sem limite, em casos de testes positivos de covid.
Com tantos problemas, a pergunta é apropriada: afinal, é seguro trabalhar em um estádio da Copa América no Brasil? Em Brasília, acompanhei Brasil x Venezuela no Mané Garrincha, e agora conto como foi esta experiência.
Como bem definiu Tite, em entrevista coletiva no sábado (12), a organização da Copa América foi feita de maneira atabalhoada. Isso apressou todos os processos. Um novo período de solicitação de credenciamento foi aberto para jornalistas brasileiros. Após a confirmação da credencial, veio um detalhe extremamente importante. Em todos os jogos, é preciso fazer o teste PCR 48 horas antes de a bola rolar. Isso vale para jogadores, comissão técnica, gandulas, seguranças, policiais, jornalistas e todos que trabalham em cada estádio.
Para o jogo de domingo (13), o teste foi feito na sexta-feira, e o resultado foi colocado no sistema da Conmebol no sábado. Com o teste negativo, chegou a liberação para entrar no estádio.
Em Brasília, a organização da Copa América mostrou algumas deficiências. Muito pela falta de informações e quedas no sistema do centro de credenciamento. Mas o protocolo sanitário foi seguido à risca. Na minha entrada no Mané Garrincha foi exigida toda a documentação necessária, inclusive a apresentação do teste negativo de covid, com a presença de funcionários da secretaria da saúde do Distrito Federal. E todos tiveram de fazer isso, incluindo os integrantes da organização do evento.
Em dois pontos do estádio foi feita a medição de temperatura. Um funcionário me acompanhou até o local para verificar a posição exata para ficar. Depois de pegar as credenciais que faltavam, entrei sozinho no elevador e cheguei ao posto de transmissão, que são aquelas tradicionais bancadas utilizadas em eventos como a Copa do Mundo.
Mas, ao invés de dezenas de jornalistas fazendo a cobertura do jogo, não mais do que 15 pessoas, todas posicionadas com o distanciamento adequado, trabalharam neste setor. A transmissão de Brasil x Venezuela ocorreu neste lugar, com o uso de máscara e álcool gel à disposição. Depois da partida, as entrevistas ocorreram de forma virtual, com o envio de perguntas por escrito.
Desde que o futebol foi retomado durante a pandemia, trabalhei em jogos de Gauchão, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores e Copa Sul-Americana. O protocolo da Copa América me pareceu o mais rígido.
E o que ocorreu no domingo em Brasília vai se repetir em todos os jogos da competição. Além disso, a Conmebol preparou um documento de 44 páginas com detalhes da sua "bolha sanitária". Algumas situações chamam a atenção. Nenhum jogador pode sair do hotel onde estiver concentrado ou receber visitas. Se isso ocorrer, receberá uma multa de US$ 15 mil (R$ 76 mil, aproximadamente). A primeira impressão foi essa, de um controle rígido para conseguir terminar a Copa América sem mais confusões que ela já teve antes mesmo de começar.