Confusão nos corredores, intimidação, acesso dos dirigentes do Lanús em áreas restritas da arbitragem e práticas antigas de Libertadores. Tudo isso foi testemunhado por um ex-dirigente do Grêmio. Rui Costa, hoje diretor executivo da Chapecoense, esteve com o clube catarinense no polêmico jogo do dia 17 de maio em La Fortaleza pela Libertadores deste ano.
A Chape colocou em campo o zagueiro Luiz Otávio e venceu por 2 a 1, mas depois foi punida pela Conmebol, que reverteu o placar para 3 a 0 a favor dos argentinos, considerando irregular a escalação do jogador. Na hora da partida, a pressão nos bastidores foi enorme.
Conversei longamente com Rui, que nesta segunda-feira estará na Arena Condá para um jogo extremamente importante. A Chapecoense enfrenta o Santos e, se ganhar vai ficar muito perto do seu objetivo, que é escapar do rebaixamento no ano mais difícil da sua história.
O La Fortaleza é um estádio que não é tão conhecido. Você esteve lá com a Chapecoense naquele jogo polêmico da Libertadores deste ano. O que é possível falar sobre o que o Grêmio vai encontrar?
Uma final de Libertadores fala por si só. Em primeiro lugar o Grêmio vai encontrar um grande time de futebol. O primeiro desafio é esse, enfrentar um time muito bom. Mas o Grêmio está jogando o melhor futebol do Brasil. O que preocupa é que o que vivemos lá foi algo muito forte. Os dirigentes do Lanús tem um trânsito muito grande na Conmebol. O estádio intimida. Nós corajosamente enfrentamos as pessoas lá, porque fomos vítimas de uma violência absurda. Tentaram tirar um jogador nosso no corredor. As coisas tem que ser iguais. Os dirigentes do Lanús chegaram a ingressar em uma zona restrita do estádio. Ninguém me contou, eu vi. Entraram, conversaram com a arbitragem , e a partir da intimidação aconteceu tudo que vocês sabem. O delegado entrou no nosso vestiário para tirar um jogador nosso, teve bate-boca, dedo em riste. Os dirigentes do Lanús estavam sabendo de tudo antes, e nós fomos surpreendidos. Mas tenho certeza que o Grêmio estará atento com toda capacidade que tem. Queremos apenas contribuir com o que vivemos lá.
Então os dirigentes fazem lá uma pressão fora da normalidade?
Nós participamos de muitas Libertadores. Isso poderia ser comum lá atrás, poderia ser uma prática corriqueira na Libertadores de antigamente. Nós queremos que isso nunca mais aconteça. Esse jogo específico o que eu vi foi isso. Temos que pensar de forma muito clara que o último jogo da competição é lá. Não é demais ter essa cautela. Nós sentimos na pele, ganhamos um jogo heroico e a interferência antes e depois da partida foi muito forte. Ali era uma classificação que estava em jogo, agora será o título.
E a chegada no estádio como foi? O comportamento dos torcedores foi normal?
Seria uma injustiça dizer que houve alguma coisa nessa parte. Fomos bem recebidos na parte administrativa e não tivemos problemas com torcedores. Treinamos no estádio na véspera, quanto a isso acho que não vai ter problema.
Sobre o jogo de hoje contra o Santos, está faltando pouco para atingir os objetivos do ano pela Chapecoense?
A todo momento temos uma grande decisão, nós estamos chegando quase na meta, mas sempre tem alguma dificuldade. Com mais uma vitória podemos alcançar a tão esperada permanência na Série A. Deixamos escapar nas últimas oportunidades, mas mostramos qualidades e compromisso com a causa. O passo ainda tem que ser dado. Mas tenho certeza, pelo comprometimento desse grupo, que teremos um final feliz.
Nós sabemos que o ano está sendo muito difícil por tudo que aconteceu. Qual é o balanço até agora, com título catarinense, Libertadores com eliminação por questões extracampo e jogos com visibilidade internacional. Só está faltando mesmo se manter na Série A?
Se a Chapecoense ficar na Série A será um balanço mais do que positivo. Ganhamos um título quatro meses depois da reconstrução total do clube. Fizemos partidas de alto nível contra o Atletico Nacional, não prosseguimos na Libertadores por questões externas, chegamos a liderar o Campeonato Brasileiro, coisa que a Chape nunca tinha conseguido, fizemos transações importantes e hoje o clube tem superávit financeiro. Só dois ou três clubes no Brasil estão nessa situação.
Qual foi a principal dificuldade? Montagem de grupo, troca de técnico ou sequência pesada de partidas?
Tudo isso. A forma rápida do nosso trabalho criou uma expectativa grande. Partimos do zero. É muito difícil montar o grupo e ter resultado com toda aquela questão emocional. Ganhamos fora do Palmeiras, do Grêmio, que na minha opinião pratica o melhor futebol do Brasil. Em agosto fizemos 53 mil km, contra 1.700 km em média dos adversários. Ali tivemos que buscar forças.
Você continua em Chapecó em 2018?
Estou muito feliz aqui, temos o dever de cumprir este objetivo de ficar na Série A. Tenho contrato de dois anos, inclusive 2018. Mas a preocupação agora é só com o final deste ano.