Confesso, sem tapa na cara, sem esculacho, sem pau-de-arara – de livre e espontânea vontade. Sim, eu estive no festival de Woodstock. Infelizmente, foi em 1994, mas asseguro que no ar ressoava um clima de puro 69. Fui em busca de um ritual satânico febril e catártico, embalado por muito rock, muita droga e muito sexo. Tudo livre, é claro – como num bufê. E foi justamente o que encontrei, embora deva revelar que tudo fosse de qualidade inferior com relação ao original: a música tinha piorado muito (Crosby, Stills e Nash, por exemplo, além de terem engordado, não tinham mais Young; ou seja, estavam velhos); a maconha cedera lugar à maldita cocaína. E o sexo, oh céus, era... seguro.
Mas o que de fato me decepcionou foi que, com o fim da União Soviética, não consegui encontrar, em meio aquele lodaçal, nenhum dos agentes da KGB que, infiltrados na CIA, estiveram lá, nas brumosas montanhas de Nova York, para distribuir LSD, fazendo com que aquela juventude transviada transasse loucamente, como coelhos, para a seguir, arrependida, praticar o aborto.
Louco para ter uma experiência alucinógena, saí em busca do Demo, ou de um seu representante legal. Bob Dylan me garantiu que, embora tivesse feito o pacto, já havia se convertido ao cristianismo e não poderia me ajudar. John Lennon, é claro, já estava morto e Marilyn Manson não fora convidado. Nem ele, e nem Marilyn, e nem Manson, o Charles no caso.
Cabisbaixo parti em direção às Cattskills Mountains. E lá, para minha surpresa, encontrei os gnomos que fizeram Rip Van Winkle – o personagem clássico de Washington Irving –, dormir por 20 anos após meter o bedelho onde não fora chamado. Com a esperança de ver o mundo mudar para melhor, aceitei um gole do vinho licoroso dos duendes. Mas exagerei um tantinho na dose e, feito o Belo Adormecido, sesteei por um quarto de século.
Acordei ontem. E me vejo agora mergulhado no inferno de Dante. Dante Mantovani. Nele, a Terra é plana, a escravidão é elogiada (por um negro), Fernanda Montenegro é "sórdida", Caetano Veloso e Legião Urbana fomentam o analfabetismo, o cartaz de Deus e o Diabo na Terra do Sol, arrancado das paredes, é jogado nos porões. E os imbecis estão no poder.
Passei as últimas 24 horas feito um zumbi (mas não dos Palmares) vagando em busca de LSD. Preciso de um LSD! Estou até pensando em vender a alma ao Diabo. Contando que ele me leve para longe do inferno de Dante. E que, claro, tenha troco para R$ 50 – pois, como o Brasil, também estou em liquidação.