Nem tudo é brumado, nem tudo é brumoso. Nem mesmo Brumadinho.
Tem vezes que as coisas estão tão claras, tão na cara, que até o mar de lama flui transparente.
Por isso, na fluidez do mercado, na transparência das transações, na fluência das mercancias, na limpidez das finanças, indago: quanto vale uma tonelada de minério de ferro?
Ora, todo mundo sabe quanto vale: vale US$ 190...
Ah, mas isso foi no auge dos negócios aquecidos, caro colega!
Agora, a economia da China resfriou-se e 1t está valendo US$ 63,91!
Sim, é o que vale, lá na Bolsa de Dalian (The Dalian Commodity Exchange, para os íntimos), onde se fecham os “contratos futuros do minério de ferro”. Futuro do presente.
Sim, US$ 63,91. É mais do que uma nota! São cinco: uma de 50, uma de 10 e três de um. Verdinhas, como um vale. E mais umas moedas – de cobre. O equivalente a R$ 237,74.
Sim, é o quanto vale uma tonelada de ferro arrancada das entranhas das Gerais.
Um minério sem maiores mistérios; nunca deu origem a nenhuma Era de Ouro.
E uma vida, quanto vale? Vale o peso de uma pena. Ou de uma alma na lama.
Passando nos cobres, pode valer até R$ 100 mil. No atacado. No varejo, sai mais caro.
E quanto vale – ou valia – o Vale do Rio Doce?
Quanto, quanto, quanto, Vale? Ah, como era verde o meu vale...
Porque de novo é preciso atravessar esse vale de lágrimas?
Será uma via de mão única em direção ao vale dos caídos?
Agora que ando pelo vale da sombra da morte, tua vara de ferro já não me basta.
Qual o testa de ferro que vai agir com mão de ferro e sentar-se no Trono de Ferro desse Game of Thrones? Quem vai barrar a barragem de barro? A barra dos tribunais ou a bancada da lama? Quem vai bancar? Quem vai meter banca? Qual o banco? Ah, mas tem o pessoal da Barra e o pessoal dos fundos... de pensão. Vai fundo, vamos quebrar essa banca!
Quem vai pagar esse vale? Quando vai acabar esse vale-tudo?
Até quando a gente vai ficar achando que este país não vale nada?
Diz pra mim, dona Vale...
Diz pra mim, antes de eu voltar lá pro fundo, bem no fundo, do meu brumado. Meu brumoso Brumadinho, tão cerrado. Porque eu gosto mesmo é lá de fora, onde sei que a falsidade não vigora.
Porque, por aqui, meu irmão, tudo é barro – e vaidade.
Até que, um dia, enferruja.