A missão não será simples. Leonardo Gaciba sabe disso. Ao deixar as funções de comentarista na TV Globo e nos canais SporTV para assumir o comando da arbitragem da CBF, o ex-juiz do quadro da Fifa fez uma escolha desafiadora. O trabalho será ainda mais duro justamente por se tratar de um momento histórico do futebol brasileiro. Além de toda a gestão do apito nacional, ele precisará dar continuidade na implementação do uso do VAR no Brasileirão.
Venho falando há algum tempo que o árbitro de vídeo é a maior revolução na história das regras do futebol. Trata-se de um primeiro fenômeno que afeta o jogo de fora para dentro e isso exige uma adaptação cultural, que passa por jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores e, principalmente, árbitros. Os próprios protagonistas do uso do VAR ainda estão em processo de adaptação.
De um lado, colocar o recurso eletrônico 380 jogos da principal competição nacional do país resultará em inúmeras noites sem dormir para quem organiza o processo. De outro, o meio do futebol precisará ter boa dose de paciência para assimilar as novidades impostas pela mudança radical.
É claro que, neste momento, o VAR é a grande questão. Só que o comando da arbitragem nacional não se resume a isso. Há outras tarefas tão ou mais difíceis pela frente. Há um processo de renovação do apito brasileiro em constante evolução. Quando nomes consagrados se aposentam, os novos árbitros precisam de um tempo para a afirmação plena. O objetivo de Gaciba precisará ser a busca por acelerar essa renovação de modo que ela não seja rápida demais ao ponto de queimar os jovens, mas ao mesmo tempo veloz o suficiente para não enfraquecer quadro.
Entretanto, a principal tarefa de Gaciba talvez seja o resgate da credibilidade da arbitragem brasileira. O nível apresentado na última edição do Brasileirão foi comprovadamente abaixo da expectativa, segundo a própria avaliação interna na CBF. Isso passa por vários fatores que se atropelam em efeito dominó. Eles passam pela falta de confiança dos árbitros, pela falta de respaldo da comissão, pelo tom do debate proposto por alguns dirigentes, pela falta de respeito dos jogadores dentro de campo e até pelo nível técnico de quem apita. Tudo isso impacta em um quadro de arbitragem enfraquecido e que tem sua credibilidade abalada.
Em resumo, todo o trabalho passa pelo resgate da confiança da opinião pública com o trabalho da arbitragem e a superação da fase de turbulência. Gaciba tem conhecimento e competência de sobra para exercer essa tarefa. Torço para que tenha também a dose necessária de sorte para que as coisas andem da melhor forma possível daqui para a frente. O futebol brasileiro agradecerá.