Da outra vez, o Grêmio mirou em Cavani mais na lenda urbana. Criou-se, através das redes sociais, uma onda tão histérica que o então presidente Romildo Bolzan se viu obrigado a fazer algum movimento em sua direção, para dar satisfação ao torcedores. Foi lá, trabalhou uma sondagem, aquela expressão que cabe quase tudo, viu que não dava por ser muito caro e aplacou a sanha. Isso foi há dois anos.
É preciso contextualizar. Ele tinha mercado na Europa, tanto que foi para o Manchester United. Não fazia sentido vir para o Grêmio. Era diferente de Suárez, que já tinha jogado um ano no Nacional e decidido encerrar sua carreira na Europa. Queria ficar perto do Uruguai. Mudou depois de Messi e o mercado dos EUA.
O problema, agora, é menos a capacidade do Grêmio de contratar Cavani. A experiência com Suárez provou que, sim, é possível criar uma engenharia financeira que, além de não causar prejuízo, dê lucro. Há dois entraves para que essa segunda temporada da série "Cavani no Grêmio" tenha um final feliz.
O primeiro é o Boca Juniors, que não cogita liberá-lo. Lotou a La Bombonera para recebê-lo. Se Cavani sai sem ser para o mercado árabe ou norte-americano, mas para um time sul-americano, o vale é imenso. É como rubricar o fracasso de um projeto menos de um ano depois. Na Argentina, usa-se o mesmo argumento que ouvi aqui. Mesmo aos 36 anos (completa 37 em fevereiro), com pré-temporada no corpo, quem sabe.
O outro entrave é mais grave. Que Cavani é esse que, dois anos depois da lenda urbana azul, reaparece no imaginário tricolor ainda que todos neguem, de Alberto Guerra ao irmão do próprio atacante uruguaio?
Curva descendente
Temo que a curva descendente de Cavani seja sem volta. Vejamos. O PSG não renova com ele. Fica um tempo no desvio e vai para o Manchester United. Não brilha. Segue para o Valencia, já caindo de prateleira. Vai mal. Resta a América do Sul. No Boca, jejum de gols. Faz um, importante, que ajuda a eliminar o Palmeiras na semifinal da Libertadores, ainda que tenha errado sua cobrança nos pênaltis. Na final contra o Fluminense, compromete. Suárez saiu do Barça e foi campeão espanhol no Atlético de Madrid. E uruguaio, pelo Nacional, para onde foi porque quis.
Foco no time
O Grêmio tem de avaliar bem, portanto, se vale colocar o mesmo poder de investimento usado com Suárez em um suposto e eventual projeto Cavani. A comparação entre os dois seria imediata, ainda que tenham características diferentes. Pode acontecer, mas o raio normalmente não cai no mesmo lugar duas vezes. Melhor o Grêmio e a torcida focarem em fazer time com reforços notas 7 e 8, em vez de procurar um nota 11 que faça tudo sozinho. Aconteceu com Suárez, mas duvido que se repita, ainda mais tão rápido.