Após dois anos e meio no Inter, agora ele comanda o futebol do clube que amanhece 2021 como bicho-papão, na esteira de dois reforços que seriam titulares em qualquer time do Brasil: Hulk e Nacho Fernández. Sem falar na volta de Cuca, técnico campeão da Libertadores em 2013.
Rodrigo Caetano, 51 anos, soma 10 como jogador de base, outros 12 no profissional e os últimos 18 na condição de executivo de futebol, profissão da qual é uma espécie de fundador no Brasil. Só tirou férias entre Flamengo e Inter, em 2018. Nesse papo, Rodrigo revela como, afinal de contas, funciona essa fábrica de dinheiro chamada Atlético-MG, ainda por cima em meio às obras de um estádio próprio. Sua saída do Inter, os bastidores das divergências com Coudet, o futuro colorado, a verdade sobre o interesse em Edenilson, o futebol pós-pandemia e muito mais. Boa leitura.
De onde o Atlético-MG tira tanto dinheiro?
De um órgão colegiado que chamamos de 4R: Rubens e Rafael Menin, pai e filho da MRV Engenharia; Ricardo Guimarães, dono BMG, e Renato Salvador, da rede de hospitais Mater Dei. São torcedores abnegados de sucesso empresarial que se uniram para viabilizar o clube e formar um time competitivo para ser campeão.
Eles emprestam valores ao clube?
Não, exatamente. É um mútuo. Jamais conseguiríamos esses aportes em banco, a não ser com juros altíssimos. Com o 4R, a taxa é zero. São estes recursos que garantem o fluxo de caixa. O estádio que está sendo construído, por exemplo. É todo tocado pela MRV, que terá os namings rights.
Os recursos terão de ser devolvidos, ainda que sem juros?
Não é doação, é bom deixar claro. Mas o pagamento, por assim dizer, virá de outras formas, quando o clube estiver saneado e gerido cada vez mais profissionalmente, através do lucro no futebol. O 4R não visa lucro imediato. Tanto que salvaram o Galo de cobranças da Fifa várias vezes.
Então o Atlético-MG não corre o risco de virar um Cruzeiro?
Não, pelo modelo adotado. O Galo se capitalizou com um grupo de atleticanos com raízes fortes na torcida, de muita tradição na sociedade mineira. Tivemos o socorro de um grupo que nunca vai acionar o clube na Justiça. Além do mais, nada é feito sem a aprovação deles, do colegiado. Só que agora a fonte secou (risos).
Como assim?
Eles já avisaram: chega de gastar. É que o elenco vem sendo montado faz tempo pelo bom trabalho do Rui Costa e do Alexandre Mattos, que me antecederam. Comigo vieram três, apenas. O Hulk não é barato pelo salário, mas tem de levar em conta que não pagamos direitos, pois eles estava livre. O Dodô, lateral-direito, tinha litígio com o Cruzeiro. Apenas o Nacho Fernández, esse sim, implicou em desembolso.
Quanto custou Nacho?
US$ 6 milhões parcelados.
Era esse o preço de quando tentaste trazê-lo para o Inter?
Não. O River pediu o dobro naquela época, US$ 12 milhões, o valor da multa. Impossível.
Você queria ter ficado no Inter?
Sim (pausa). Tu sabe que eu defendo a continuidade (pausa). Minha família é de Santo Antônio da Patrulha. Mas, durante a eleição, os candidatos não falaram comigo. O Alessandro (Barcellos) ganhou, mas me procurou só para agradecer, pois construímos muita coisa.
Alguma mágoa?
Não, absolutamente (pausa). Veio outra gestão, que preferiu encerrar a relação.
E o futuro do Inter?
Está perto de voltar a ser campeão. É um processo. Cheguei em 2018, com Marcelo Medeiros e Roberto Melo. Desde lá, o Inter sempre fez campanha de Libertadores no Brasileirão e foi bem nos mata-matas, chegando à final da Copa do Brasil e deixando de ser campeão nos pontos corridos por um ponto. Quando o Galo ficou fora da disputa, torci muito pelo Inter.
Teve ou não teve briga com Eduardo Coudet?
Ele era intenso. Os estrangeiros têm essa característica de fazer time de imediato e uma filosofia de participar intensamente das contratações. Chacho os queria muito. Só que a pandemia mudou tudo. Eu disse a ele: não temos dinheiro, mas um elenco competitivo e jovens para resultado técnico e rentabilização. Foi o que o Brasileirão mostrou. Eu frisei a ele: não podíamos nos endividar mais. Ainda assim, trouxemos Abel Hernández e Leandro Fernández. Lucas Ribeiro teve o aval dele.
Traição?
Não. Surpresa, sim. Era um projeto sério, de longo prazo. O grupo gostava dele. O pior momento foi aquela entrevista pós-jogo com o Atlético-GO, pela Copa do Brasil, quando ele falou dos jovens, com Yuri Alberto voltando e Maurício recém trocado pelo Pottker. Tive de responder e dar a visão do clube, claro. Aí veio uma proposta do Celta, vitrine europeia. É do futebol. Eu o considero meu amigo.
Você tentou contratar o Edenilson?
Não. Conversei com ele e muitos amigos do Inter, como o Lomba e outros, mas apenas os parabenizei pela campanha no Brasileiro. Se eu quisesse contratá-lo, primeiro procuraria o Inter. Se um dia o Galo quiser o Edenilson, é o que farei.
Haverá redução salarial no pós-pandemia?
Em valores, não creio. O que vai acontecer são contratos mais curtos, pela insegurança do cenário, além do que chamamos de fixo variável, que são as metas por rendimento. Na Europa, já são menos transferências do que nas últimas janelas, a maioria com jogadores em fim de contrato.
Pensa em voltar ao RS?
Tenho amigos no Inter e no Grêmio. Sou gaúcho. Se um dia vier proposta, as analisarei com carinho. Mas isso só lá na frente.