
Pode-se dividir em duas partes a entrevista na qual D'Alessandro anunciou que deixará o Inter em dezembro para trabalhar em outro lugar, sem aposentadoria.
O primeiro é a sua relação de eterna gratidão com o clube e vice-versa. Ele chegou a dizer que sua carreira melhorou 500 vezes quando saiu do San Lorenzo em 2008 para retomar o protagonismo continental no Beira-Rio, tornando-se o melhor da América, em 2010.
De parte do Inter, nem se fala: ídolo na hora boa, conquistando mais de uma dezena de títulos, e na hora ruim, quando abriu mão de uma vida perfeita no River Plate de seu amigo Marcelo Gallardo para sofrer e tomar pancada ao lado do Inter na Série B. D'Alessandro trocou o filé pela carne de pescoço em respeito ao assador da carne de pescoço.
Assim ganhou o coração em definitivo dos colorados, sedimentando um lugar na galeria dos 10 maiores jogadores da história do Inter. O colorado vê em D'Ale uma parte de si mesmo, pela maneira como defende o clube acima de tudo. Esta relação rara de ser construída se basta. Está além de questiúnculas com conselheiros ou influenciadores digitais que o camisa 10 nem disse quem são. Não há mágoa ou fato capaz de reduzi-la um centímetro que seja.
A outra parte da entrevista é muito clara. Ele quer jogar, mas não o escalam.
D'Alessandro entende que tem condições físicas. Programou-se para chegar quase aos 40 anos trabalhando duro, inclusive com profissionais particulares para, além da preparação física no clube, completá-la em casa e durante as férias, abrindo mão do lazer. Só que, este ano, jogou poucas vezes. Como ter certeza que não ficará novamente em segundo plano em 2021? Ele não pode pagar para ver. Não há tempo. Por isso sairá. Se for contratado por outro clube, certamente será com a promessa expressa de jogar. Nesse ponto, claramente há uma mágoa com Eduardo Coudet.
— Para qual clube você vai em 2021? — foi a pergunta, a certa altura.
— Não sei ainda, mas certamente não será para o Celta — rebateu D'Alessandro, entre elogios a Odair Hellmann, que o colocava para jogar e repetiu a dose no Fluminense, armando um planejamento especial para Nenê, 39 anos.
Mais direto que isso, impossível. Coudet abandonou o Inter pelo pequeno Celta, de Vigo, na Espanha, faltando 48 horas para um jogo decisivo de Copa do Brasil e líder do Brasileirão. D'ale ainda tentou falar com Coudet sobre o não-aproveitamento, mas não adiantou. Nunca reclamou de nada, é bom que se diga.
Seguiu quieto no banco, ficando de fora quase sempre. O "pacote" que definiu a sua saída completou-se com críticas de conselheiros e torcedores-blogueiros nas redes sociais. "Preciso disso?", deve ter pensando. D'Ale pode até, politicamente e respeitosamente, dizer que não. Mas, se não foi a gota d'água, ajudou a encher o copo: o fim da Era D'Alessandro no Inter passa por Eduardo Coudet.