Nunca tinha me dado conta. E você? Reunindo-os na prática, tive a sensação de morar em Montevidéu, Buenos Aires ou Londres, estonteantes e cosmopolitas cidades com a maior quantidade de clubes de futebol do mundo. Que timaço dá para fazer com jogadores nascidos em Porto Alegre, como mostrou a iniciativa de GauchaZH, a propósito dos 248 da Capital, comemorados na quinta-feira (26). Ainda sobrou um banco de reservas de respeito, capaz de enfileirar os meias Escurinho e Milton Kuelle, o lateral-esquerdo Roger e o volante Salvador, este também ídolo do River Plate, após deixar o Inter dos anos 1950. E outros que agora me fogem à memória.
Entre os titulares da seleção, quatro jogaram só no Grêmio (Aírton Pavilhão, Everaldo, Ronaldinho e Foguinho), quatro que vestiram as duas camisetas (Mauro Galvão, Batista, Tinga e Tesourinha), dois que jogaram só no Inter (Paulinho e Carlitos) e um que jogou só no Renner e no Palmeiras (Valdir de Morais). Verdade que Batista e Tesourinha fizeram história mesmo no Inter. Apenas passaram pelo Grêmio. Ronaldinho é gremista, mas boa parte da torcida não votaria nele para seleção alguma representando o Grêmio. Bem, mas isso fica para os torcedores se divertirem.
Um esquadrão de correr o planeta contra qualquer poderoso da Europa, em qualquer época. Um nostálgico e delicioso passatempo em tempos de confinamento. A seleção porto alegrense de todos os tempos começa por Valdir de Morais, campeão gaúcho invicto pelo Renner, em 1954. Depois do Papão do Quarto Distrito, que acumulava vítimas no Estádio Tiradentes, ali na Sertório, ele virou lenda no Palmeiras e com a amarelinha do Brasil. Criou, e foi copiado em todos os idiomas, a função do preparador de goleiros. Como ninguém tinha pensado nisso? O Seu Valdir, um visionário que nos deixou este ano, pensou. Agora, a linha de defesa.
SÓ SELEÇÃO - Na lateral direita, Paulinho de Almeida, o Paulinho Piranha, assim apelidado pelos dentes proeminentes. Só não foi campeão da Copa de 1958, após deixar o Inter e brilhar no Vasco, porque quebrou a perna. Era o reserva imediato de Djalma Santos. Um intelectual da bola: seu passatempo era assistir peças de teatro. Na zaga, Airton Pavilhão e Mauro Galvão. Hoje, os dois pegariam de camisa 10 tranquilamente, tal o talento e o ódio ao chutão sem perder o patronato. Detalhe: saiam jogando e trocando passes em uma época na qual era permitido recuar bola para as mais do goleiro. Fechando a defesa, Everaldo, tricampeão com Pelé no México em 1970, uma estrela na bandeira do Grêmio. POA parou de alegria para recepcioná-lo. E de dor em seu enterro, vítima de um acidente de carro.
OS INCANSÁVEIS - À frente dos zagueiros, na seleção de Porto Alegre, dois volantes meio-campistas. Quem quiser chamá-lós de meias, sem problemas. Os incansáveis Batista e Tinga seriam capazes de jogar quarta e domingo por um mês na altitude de La Paz. A Covid-19 pediram clemência se entrassem em seus pulmões. Corriam o tempo todo, marcando e armando com igual naturalidade. Batista fez parte da seleção da Fifa na Copa de 1978. Tinga, que é mais recente, todos conhecem. Ambos jogaram em Grêmio e Inter, assim como dois outros eleitos, Mauro Galvão e Tesourinha. Batista brilhou mais no grande Inter da década de 1970. Sua ida para o Grêmio foi conturbada e rápida, após brigar com José Asmuz, ex-presidente colorado. Tinga fez história no Grêmio de Tite, em 2001, mas ganhou duas Libertadores no Beira-Rio. Do meio para a frente, então, a seleção de POA é um cano.
OS GÊNIOS - Tesourinha, escolhido craque Melhoral em eleição no país todo, cortando pela direita. Tesoura” fez história na Seleção ao lado de outra lenda, no Sul-Americano de 1952, que ainda alinhava Jair da Rosa Pinto e Ademir Queixada: Heleno de Freitas, o galã louco e incompreendido do Botafogo, que morreu de sífilis. Um pouco mais atrás, Ronaldinho. Nunca haverá outro gaúcho consagrado duas vezes por jogadores, técnicos e jornalistas Bola de Ouro no mundo, padrão FIFA. Na esquerda, os gols de Foguinho, depois criador do estilo gaúcho de jogar futebol, já na condição do técnico Oswaldo Rolla. Por fim, Carlitos, o artilheiro da história dos Gre-Nais. O técnico? Ênio Andrade, campeão brasileiro pelo Grêmio, no primeiro título nacional tricolor, em 1981, e no terceiro do Inter, invicto, em 1979.