A parada no futebol mundial em razão da pandemia de coronavírus interferiu no planejamento do trabalho da Seleção Brasileira. Além do adiamento na Copa América para 2021, o calendário das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 foi alterado e ainda não está definido. Auxiliar de Tite na Seleção, Cléber Xavier conversou com GaúchaZH e contou como a comissão técnica tem trabalhado nesse momento de paralisação.
Durante a conversa, Cléber Xavier também falou sobre nomes ligados a Grêmio e Inter que têm sido convocados ou estão sendo observados por Tite, como Arthur, Everton, Matheus Henrique e Edenilson. Confira:
Quando começaram a ser sentidos os impactos no trabalho da comissão técnica da Seleção em viagens pela Europa, antes mesmo que a pandemia do coronavírus chegasse ao Brasil?
A fase era de observação e de contatos com atletas na Europa e no Brasil. Visitas aos clubes e treinamentos, conversando com comissões e montando um trabalho para que fizéssemos a convocação de março. Eu iria para a Itália e não pude ir. Então, regressamos ao Brasil e iniciamos contato com os departamentos médicos dos clubes através do Dr. Rodrigo Lasmar, médico da CBF. A gente tinha a preocupação de como esses jogadores chegariam ao Brasil e já começamos a projetar algumas coisas, mas foi rápido. De uma hora para outra, os compromissos começaram a ser cancelados. Primeiro as Eliminatórias e, depois, a Copa América. A gente começou a trabalhar de casa. Agora entramos em uma fase em que as pessoas estão dentro de casa e as coisas estão fechando. Estamos nos organizando para não parar trabalho, estudos e observações.
Há alguma posição sobre as datas que podem ser colocadas para a Seleção Brasileira em 2020?
A CBF sempre informou as decisões tomadas através de boletins. Neste caso específico desta turbulência toda, o Juninho Paulista (coordenador da Seleção Brasileira) nos passa as informações. Ele disse para continuarmos tranquilos, com o trabalho em cima dos estudos e cuidando da saúde, pois qualquer definição ele nos passará. Ficamos neste aguardo. Assim, a gente não fica ligando ou perguntando. Ele sabe a hora que ele tem que passar essas situações. Acho cedo para que se tenha alguma informação sobre as datas Fifa.
Vocês chegam a pensar em algum tipo de prejuízo em termos de andamento de trabalho com essa parada ou não é algo que não passa na cabeça neste momento?
Não passa. O primeiro impacto é que estávamos fazendo um processo desde novembro, que acabou sendo totalmente interrompido pelo adiamento dos jogos. Aí fica aquela surpresa. Depois, a gente acaba caindo na realidade e se preocupando com a questão de humanidade. Não tenho a mínima ideia de como será daqui para frente. Quando os campeonatos serão recomeçados, em que nível os atletas estarão, que tempo teremos para convocar, se é para junho, setembro ou outubro. Será um recomeço de trabalho.
Que tipo de observação vocês fazem do Everton na temporada de 2020 e a sequência que ele vem tendo dentro do Grêmio?
O Everton foi um jogador que vinha em um crescimento muito grande antes da convocação da Copa América. Um jogador que chamou muito a atenção pela qualidade de jogo coletivo, um contra um, finalização e gols. Comprovou isso na Seleção. Nesta convocação, ele já estava retomando seu grande momento. A Seleção não é só o agora, mas também o que o atleta apresenta nas competições anteriores. Um jogador como o Everton será muito importante para competições futuras.
O que falar sobre o Matheus Henrique, que surge logo após o Arthur em um processo que a gente tem chamado de fábrica de volantes do Grêmio?
Coincidentemente com o grande momento que o Maicon viveu, embora ainda seja um jogador diferenciado, mas atravessou uma fase maravilhosa no Grêmio. Ele ajudou muito no surgimento desses atletas. Faz o jogo através do meio pensado e construído. Essa posição dele ao lado do Arthur, que teve crescimento e fez uma grande Copa América, e agora impacta no Matheus Henrique. Estive com o Matheus nos jogos finais do Pré-Olímpico. Teve grandes atuações e era um dos capitães. Ele é de uma posição que tem surgido e é diferente dos meias que chegam na área e de entrada surpresa com finalização. Algo que a gente sempre usou no caso do Paulinho. O Edenilson fez esse papel no Inter. A gente tem esse volante construtor surgindo. Matheuzinho, Bruno Guimarães, Douglas Luiz e Gérson. Jogadores importantes.
Você mencionou o Edenilson. Há outros atletas do Inter no radar de observação da Seleção?
Eu brinquei com o Edenilson esses dias. Mandei uma mensagem para ele: “Agora virou batedor de faltas?” (risos). Tudo isso que está fazendo no Inter, ele já tinha o potencial com a gente no Corinthians. Mas a gente não gosta muito de falar sobre essas observações, pois acaba gerando expectativa nos atletas e pode ser que a convocação não aconteça. O Inter vem crescendo e quanto um time está com confiança aparecem individualidades. Tem jogadores interessantes (cita Boschilia, Marcos Guilherme, Galhardo, Bruno Fuchs, Rodinei, Moisés). Eles chegam para dar uma característica diferente ao time. Na hora de fechar o radar há uma série de detalhes. Os próximos anos de sequência até a Copa do Mundo são muito duros, mas tivemos uma certeza na última convocação. Temos 30 a 40 atletas de altíssimo nível. Vão nos ajudar na caminhada até a Copa de 2022.