Sobre a questão dos CTs de Grêmio e Inter, ambos oriundos de áreas públicas, alguns leitores questionaram se é papel do Estado ceder terrenos para entidades de direito privado, caso dos clubes. É uma questão pertinente. O Luiz Carvalho, utilizado pelo Grêmio, perto da da Arena, foi erguido em espaço da Superintendência do Porto de Rio Grande. O do Inter, em Guaíba, será construído na região em que, um dia, haveria uma fábrica da Ford.
Nas duas situações, o governo do Estado repassou a posse das áreas para os clubes, mediante contrapartidas sociais, através de projetos de lei. O projeto de lei do Grêmio foi aprovado no final da legislatura passada da Assembleia, ainda durante o mandato do governador José Ivo Sartori. O do Inter vai a plenário, com acordo prévio das bancadas, em outubro próximo. Penso que, nos dois casos, foi bom negócio para o poder público.
O RETORNO SOCIAL
Eram áreas sem destinação. O Poder Público não lucrava nada com elas. A dupla Gre-Nal faz parte da identidade da Província de São Pedro. É um orgulho da população. A revista inglesa FourFourTwo, um das principais publicações esportivas da Europa, alinhou a rivalidade Gre-Nal entre as 10 maiores do mundo. E cravou: número 1 do Brasil e 2 do continente, atrás de Boca e River. O vermelho e o azul estão em todas as peças de marketing do governo. Pode-se dizer que todos os gaúchos, de alguma maneira, se beneficiam da iniciativa dos CTs. Qualquer criança sabe que o sucesso no futebol depende de estrutura de excelência para treinos. E, o principal: Grêmio e Inter embalam os sonhos de milhares de crianças, das escolinhas ao profissionalismo, dando escola e formação. O retorno social, para o Estado, é óbvio.
O QUE NÃO PODE
A cedência das áreas dos CTs, por parte do Governo Estadual, é bem diferente, por exemplo, do eterno pacote fiscal de bondades oferecido pela União há décadas. Nesse caso, são bilhões em impostos no lixo, enquanto o cidadão comum morre no IR. E não importa partido ou a ideologia. Volta e meia, quem está no poder renegocia ou até esquece de dívidas do passado. Em geral, logo após o acerto, os clubes pagam. A certa altura, começam a atrasar. Em seguida, cessam. O bolo da dívida, claro, cresce. Lá pelas tantas, surge uma grande ideia: que tal renegociar tudo de novo? Historicamente tem sido assim, apesar do Profut ter representado um marco nesse processo, pela exigência de contrapartidas como investimento no futebol feminino e risco de rebaixamento se atrasar salários.