Algumas considerações são importantes acerca do vídeo em que uma mãe gremista, com o filho pequeno ao lado, é hostilizada por colorados no espaço destinado à torcida do Inter, no Gre-Nal 421. A primeira, e também a mais importante, é nunca perder de vista quem é o culpado, algo bem comum no Brasil em casos de injúria racial e assédio.
Lá pelas tantas, quem sofre o constrangimento vira vilão por um comportamento supostamente provocativo. O fato de a torcedora do Grêmio estar numa área destinada a colorados, seja qual for o motivo, não revoga regras de civilidade e de convívio em sociedade. Setores demarcados nos estádios não são terra sem lei. Ela não pode ser constrangida por estar ali.
O melhor seria mãe e filho verem o jogo na torcida mista ou entre gremistas. Mas isso, bem entendido, só porque o ambiente do futebol está cada vez mais tosco e imbecilizado. O fato é que eles não cometiam delito algum. Não representavam risco para ninguém. Sequer estavam ali de propósito.
Uma cena terrível, que vai ao encontro de uma lógica mais ampla e perversa: o futebol se transformou em válvula de escape das nossas mazelas. Ninguém xinga, insulta e diz palavrão quando encontra um produto vencido no supermercado. Ou no cinema, se não gostou de um filme.
Mas, no estádio, sente-se no estranho direito de transgredir: acusa jogadores sem provas, chama árbitros de desonestos e até descamba para atos variados de discriminação.
As pessoas, e aqui não falo só dos malucos de organizadas, mas também de senhores doutores de vida ilibada, que se transformam na hora de torcer, têm de entender que não vão ao estádio para exorcizar os seus demônios.
Repercussão
Houve, ao menos, uma boa notícia decorrente das cenas deprimentes que correram o Brasil. Não houve grenalização. Jogadores do Grêmio e do Inter manifestaram solidariedade às vítimas nas redes sociais, sem clubismo, colocando-se à disposição para ajudar: Everton, Edenilson, Nico López, Jean Pyerre. Salvo a minoria acéfala de sempre das redes sociais, torcedores em azul e vermelho ficaram do mesmo lado.
Punição
O presidente Marcelo Medeiros pediu desculpas em nome do Inter e cassou por tempo indeterminado os direitos da sócia que aparece no vídeo. Fez bem. O do Grêmio, Romildo Bolzan, seguirá assistindo mãe e filho, até para o menino não se traumatizar e voltar aos estádios. Deu-lhes carinho institucional. Belo gesto. O MP já convocou 10 depoimentos. O Inter, creio, será multado. A punição é essencial. Educa. Uma criança tem de ir a um Gre-Nal para chorar de alegria, nunca de medo.