Gallardo é a grife. Ele regula em idade com Odair, mas recebeu a grande chance como técnico principal muito cedo. Revolucionou um River Plate que caía pelas tabelas, amassado pelo Boca. Assumiu em um momento bem parecido ao de seu oponente, no Inter. Mudou a base. Não sossegou até ganhar um novo CT, em Ezeiza.
Trouxe para a comissão técnica uma mulher. A neurocientista Sandra Rossi tem a missão de, com exercícios específicos, alguns aparentemente sem nexo com o futebol, reduzir o tempo entre os comandos cerebrais e a ação do corpo: chute, giro, passe, drible, cabeceio. Chamaram-no de louco. Galhardo queria um time rápido, e foi atrás de todas as ferramentas disponíveis, sem preconceitos.
No museu, dentro do Monumental de Núñez, o espaço dedicado a ele até assusta. Visitei, no ano passado. São fotos, roupas, objetos pessoais, medalhas. Algo já meio Juan Perón, quase Evita. Imagine agora, depois daquela virada sobre o Grêmio e triunfo na final sobre o Boca.
A eternidade exige glórias, é claro, mas o começo de carreira do técnico do Inter exibe números muito consistentes. Ainda mais se levarmos em conta o momento em que ele recebe o leme: reconstrução, finanças alquebradas, reforços mínimos, leite de pedra.
A verdade é que Odair vem superando as mais otimistas expectativas. Em 73 jogos, venceu 40, empatou 17 e só perdeu 16. São 62,5% de aproveitamento. No Beira-Rio, vai a 80,4% e só quatro derrotas, uma delas contra o Noia, quando podia perder para se classificar. Ninguém fica ano e meio à frente de uma potência em período histórico instável, como era o Inter pós-Série B, sem estofo. Haja pressão.
Pela repercussão continental, por ser contra o atual campeão, um bom jogo com vitória, liderança e classificação virtual colocará Odair em outro patamar. Como técnico principal, ainda não tem faixas, mas é certo que um dia as terá. Vou além: o fato de ter sobrevivido para viver uma noite como a de hoje, pelo clube do coração, é um título pessoal.