Para ele não houve recepção em aeroporto lotado. Nem Beira-Rio aberto com exclusividade para a torcida vê-lo fazendo equilibrando a bola na testa, com direito a selfies na mureta. Foi assim com Paolo Guerrero, jogador de Copa do Mundo, ex-Flamengo e bicampeão da Bundesliga pelo Bayern, um gigante europeu. Não era o caso do carioca Patrick Bezerra do Nascimento, 26 anos.
Canhoto, 1m75cm, o volante chegou em janeiro só mais anônimo do que ainda é agora. Passou duas vezes pelo Caxias. Andou pela Turquia, no Gaziantepspor. Foram sete clubes antes da primeira camiseta pesada: Operário-PR, Marcílio Dias, Caxias, Comercial-SP, o time esse de nome impronunciável, Goiás e Sport.
Patrick era um nômade quando foi contratado. Não por isso, mas também por isso, é o emblema deste Inter operário, que surpreende o país ao brigar na parte de cima na tabela sem nunca ter figurado entres os postulantes a título ou vaga na Libertadores. Desde que Odair Hellmann o fixou no meio-campo, seja qual for o esquema tático, por dentro ou por fora, o time foi ganhando consistência.
O técnico já abriu mão de nomes conhecidos como D’Alessandro, Damião, Pottker ou Nico López, mas jamais de Patrick. Suspeito até que, ainda hoje, andaria pela Rua da Praia quase anônimo. Mas os seus números impressionantes na temporada atestam que, para o time, ele é uma celebridade na hora de defender, criar e fazer gols.
O Inter é o time que mais rouba a bola do adversário entre os 20 da Série A. Foram 367 desarmes até a rodada deste fim de semana, com relativa vantagem para os 345 do Flamengo e 344 do São Paulo. Isso só é possível porque todos sem empenham na parte defensiva, do zagueiro ao centroavante, passando pelo porteiro e o presidente Marcelo Medeiros.
Entre os 10 melhores do campeonato nesse quesito operário, três são colorados: Victor Cuesta, Rodrigo Dourado e, claro, o líder do ranking: Patrick. Só que, além de marcar feito cão de guarda, o camisa 88 é um dos goleadores do Inter em 2018. Soma seis gols na temporada, como extrema pela esquerda no 4-2-3-1 ou por dentro na linha de quatro do 4-1-4-1.
Pouco? Só três a menos do que Pottker e Nico, os principais artilheiros. E mais do que os quatro de Damião. Quem é o garçom, o rei das assistências, o pifador? Nem D’Alessandro deu mais passes para gols do que ele: seis, contra quatro do camisa 10.
Patrick é um meio-campista que marca, participa da criação e faz gols. Não tem o brilho e a fama de Paolo Guerrero, a idolatria dispensada pela torcida a D’Alessandro ou o carinho que os colorados nutrem por Nico López. Não é craque, celebridade ou selecionável. Longe disso.
Mas sem a transpiração solidária que faz de Patrick o motor invisível do time, o Inter não chegaria a um domingo de sol de agosto, diante do Paraná, no Beira-Rio, quem diria, em condições de fechar o turno na liderança.