Dizem que é uma espécie de lema popular dos tártaros. Bez buldirabiz significa, no idioma local, algo como "sim, nós podemos". Não, nada a ver com o slogan do Obama. O Tartaristão é uma das 85 repúblicas da federação russa. Alonga-se até as portas dos Montes Urais. O islamismo, presume-se, chegou em 922 onde hoje se ergue a bela capital, Kazan. É aqui que a Seleção, representante de um país descoberto em 1500, disputará o seu lugar nas semifinais contra a Bélgica, na sexta-feira.
A 21ª Copa acontece não apenas em um país de cultura totalmente diferente da nossa, apesar de seus movimentos rumo a ocidentalização datarem do período dos czares. É mais do que isso. São muitos povos, idiomas e culturas dentro de uma só nação. Kazan, cidade desenvolvida e rica, a terceira mais importante da Rússia, é a síntese dessa diversidade. A catedral cristã ortodoxa e a mesquita principal ficam uma ao lado da outra.
A convivência religiosa pacífica é um dos orgulhos do povo tártaro. O islamismo já foi proibido várias vezes no Tartaristão. Catarina II, no século XVIII, encerrou décadas de censura de seus antecessores imperiais. No período comunista, novo cerceamento. São 115 etnias, abrigadas em um dos espaços mais multiculturais do planeta. Nas ruas de Kazan, caminham feições e cores asiáticas, árabes, europeias. Além da maioria muçulmana tártara, há armênios, ucranianos, ciganos – e por aí vai.
No encalço da Seleção, a equipe do Grupo RBS já peregrinou por Rostov-on-Don, São Petersburgo, Moscou e Samara. Suspeito que Kazan será nossa parada mais fascinante. Se o Brasil desbancar a badalada grande geração belga, aí é o cenário perfeito.
POBREZA ENVELOPADA
Antes de embarcar para Kazan, deparei-me com uma cena inacreditável em Samara. Já contei que, a exemplo dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, tapumes foram erguidos para esconder casas mais pobres. Mas barraco envelopado nunca tinha visto. Um casebre destoava em uma rua turística de Samara, cheia de monumentos e perto do maior bunker de Stálin em toda a Rússia.
E agora? A solução encontrada foi dar roupa nova ao casebre. Como? Afixando painéis transparentes ao redor da casa, com janelas, portas e rodapés novinhos desenhados em tamanho natural. Quem passa de carro nem nota. E, mesmo a pé, com a desatenção natural do turista abrindo e fechando mapas, pode funcionar.
A Rússia de Putin exibe certas maluquices. Essa, de envelopar a pobreza, é caso de internação.